São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994 |
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Livros raros estão perdidos há 5 semanas
ARMANDO ANTENORE
O cirurgião carioca Jorge Mills Xavier da Silveira, 54, dono das obras que sumiram, despachou-as do Galeão no último dia 4 de dezembro, às 19h, em um vôo da Air France, o 241. Uma transportadora francesa, a Chenue, tinha autorização do médico para liberar a carga em Paris. Silveira, que permaneceu no Rio, combinara deixar os livros sob os cuidados de parentes europeus. Depois de uns meses, pretendia viajar à França e procurar especialistas locais que pudessem restaurar as obras. Eram exatamente 490 volumes –que, juntos, pesavam 683 quilos e embarcaram em duas grandes caixas. O avião que trazia a carga –um Air Bus 340– aterrissou dia 5 de dezembro no aeroporto Charles de Gaulle. Quando a transportadora chegou para retirar as caixas, encontrou apenas uma. A outra, diz a Air France, se extraviou no desembarque. Pode estar em qualquer um dos 220 aeroportos internacionais onde a companhia opera. Há 35 dias, funcionários da Air France procuram a caixa –por enquanto, sem sucesso. Silveira não quer se pronunciar sobre o sumiço. Amigos da família afirmam que o médico ainda nutre esperanças de reencontrar a carga. Dizem, também, que os livros estão no seguro. Mas não adiantam o nome da seguradora –informam, apenas, que é de Nova York. Tampouco revelam quanto Silveira receberá caso as obras não apareçam. Na carga, estavam também livros de arte com gravuras do alemão Albrecht Duerer (1471- 1528). E um relato de viagem sobre o Brasil. O autor é François Froger. A data de publicação, 1699. O título, extensíssimo: "Relation du Voyage de M. De Gennes au Etroit de Magelan, Brésil, Cayenne et les Antilles". O cirurgião carioca herdou todos os 490 volumes do pai, o endocrinologista Mem Sardinha Xavier da Silveira, que morreu em janeiro de 1993, depois de formar uma biblioteca com aproximadamente 2 mil volumes. Os livros que embarcaram estavam entre os mais importantes do acervo. "Os títulos médicos que o Mem possuía eram raros, os melhores dos séculos 16 e 17. Não dá para precisar quanto valiam", diz o bibliófilo Manoel Portinari Leão, 50, que visitou a biblioteca há três anos. Antes de embarcar as obras, Jorge Silveira consultou o Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC). Queria saber se poderia tirá-las do país. O IBPC autorizou a saída no dia 19 de novembro de 1993, conforme consta do processo 01500 000526/93-67. O documento traz um parecer da Biblioteca Nacional sobre os livros. "Pelo menos 20 títulos eram bastante raros", afirma Maria Lizete dos Santos, uma das técnicas que assinou o parecer. Texto Anterior: Jornal diz que filho de John Lennon teve envolvimento com Jackson Próximo Texto: Air France procura carga Índice |
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