São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Febre do reciclável chega à moda com marca XULY.Bet

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Em Paris, a marca mais quente do momento é XULY.Bet. O seu criador é Lamine Kouyaté, 30, que busca nas peças compradas em mercados das pulgas parisienses e nos tecidos antigos, retrabalhados e recortados, seu jeito pessoal de fazer moda. Com sua marca XULY.Bet, Kouayté recicla e reiventa a moda. O estlista senegalês nascido em Mali, mora em Paris e diz ter escolhido a cidade, onde se instalou em 1989 para estudar arquitetura, por amor à ela.
O ateliê de Kouayté foi montado pelo próprio, num antigo hospital hoje fora de uso. É numa velha sala de radiologia que trabalha, dividindo o espaço com amigos, entre eles outros estilistas, designers de jóias e artistas plásticos. Em entrevista exclusiva à Folha, Kouyaté falou da explosão da moda reciclada.
*
Folha - De onde veio a idéia de recilclar roupas? O que o atraiu nela?
Kouyaté - A matéria-prima é mais interessante, assim como a abordagem, que corresponde mais ao ecletismo de hoje. Experiência e um laboratório excelente me permitem criar novas formas.
Folha - A moda de rua inglesa foi uma de suas influências?
Lamine Kouyaté - A Inglaterra e o que sai de là, do ponto de vista da música e da moda, certamente faz parte das minhas influências. Minhas influências são ecléticas e múltiplas. Vêm da música e da arte moderna. Outras fontes de inspiração são a Africa e a universalidade.
Folha - De onde vem o nome XULY.Bet? O que ele significa?
Kouyaté - XULY.Bet significa abrir os olhos na língua do Senegal, o "wolof". Siginfica vigilância, e é contra o mau olhado.
Folha - Você é hoje o estilista mais quente de Paris. Concorda?
Kouyaté - Deve existir outros nomes além do meu. Um exemplo: Véronique Leroy.
Folha - Você estudou arquitetura antes de se dedicar à moda. O que o fez mudar de idéia?
Kouyaté - A moda permite uma liberdade de criação mais instantânea.
Folha - Acredita que seu estilo integra a escola desconstrutivista?
Kouyaté - Mais como um estigma do movimento afro contemporâneo.
Folha - Qual é o público que consome suas roupas?
Kouyaté - Acho que é um público mais jovem.
Folha - Que tipo de tecido o atrai? Você gosta de cores?
Kouyaté - Gosto de Lycra, mole e confortável. Gosto de cores vivas, mas também do preto.
Folha - Você acredita que as roupas recicladas são o novo caminho para a moda? Por quê?
Kouyaté - Sim. São as roupas velhas que estão à mão dos jovens estilistas. Com a crise, o que vai se desenvolver mais é a matéria prima.
Folha - Porque você só trabalha com roupas de segunda mão?
Kouyaté - Por diferentes razões. É mais barato, e estas roupas velhas têm uma qualidade que as de hoje não têm.
Folha - Concorda que a moda deve refletir a realidade?
Kouyaté - Claro, sempre acreditei nisto. A moda hoje traduz uma realidade em movimento.

ISTO É XULY.Bet
tules e telas
meias rasgadas
sobreposição
uso da tesoura
roupas de brechó retrabalhadas
mistura de estampas
costuras aparentes
nylon, lã e Lycra
emendas e remendos

Texto Anterior: Air France procura carga
Próximo Texto: HELEN STOREY, VERONIQUE LEROY, MARTIN MARGIELA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.