São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Inner Circle pode gravar com Gil; Novas etapas já têm nomes confirmados; Demus & Pliers prometem força total

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Inner Circle pode gravar com Gil
"Talvez a gente grave um Acústico com Gilberto Gil". Essa foi a revelação da entrevista coletiva que os seis integrantes da banda jamaicana Inner Circle deram ontem no Hotel Transamérica, em São Paulo, onde estão hospedados. Razoavelmente informados sobre o cenário musical brasileiro - Gilberto Gil, Skank, Milton Nascimento e Tom Jobim foram alguns dos músicos que citaram como conhecidos -, os integrantes da banda de reggae reconheceram a semelhança entre a batida da bossa nova e do reggae ("São as raízes africanas").
Sobre o show de hoje à noite, o último desta primeira etapa do M2.000 Summer Festivals, eles disseram que apresentarão novidades ao público em relação ao último show que fizeram em São Paulo, em novembro do ano passado. "O Brasil está virando nossa segunda casa", brincaram, e disseram que gostaram de se apresentar para o público brasileiro.
Perguntados se tinham alguma crítica à onda de raps violentos que grassa nos EUA, responderam que não condenam nenhum tipo de música. "Essas músicas refletem os vários tipos de opressão que os negros sofrem hoje nos EUA. É importante que a música reflita o que as pessoas estão vivendo e sentindo."

Novas etapas já têm nomes confirmados
A produção do M2.000 Summer Concerts já tem fechada parte da programação das duas próximas etapas do festival, dias 21 e 23 de janeiro em Capão da Canoa (RS, a 148 km de Porto Alegre) e Florianópolis (praia da Joaquina), e 5 e 6 de fevereiro em Santos (praia do Gonzaga) e no Rio de Janeiro (Quebra-mar, na Barra da Tijuca).
No Sul, devem tocar os brasileiros Dr. Sin, Deborah Blando e Cidadão Quem. As atrações internacionais escaladas para a segunda etapa são a banda tecno Anything Box, a cantora Robin S e o cantor argentino Fito Paez, que também se apresenta em Santos e no Rio neste fim-de-semana. A organização do evento promete divulgar mais um nome internacional para fechar as noites da segunda etapa.
Para a terceira etapa, de novo no Rio e em Santos, estão escalados as bandas brasileiras Os Raimundos (só em Santos), Mulheres Q Dizem Sim (só no Rio), e novamente o grupo Dr. Sin. As atrações internacionais que encerram a primeira edição do M2.000 Summer Concerts são o grupo australiano Lemonheads e os norte-americanos Rollins Band (liderada pelo vocalista e compositor Henry Rollins) e Mr. Big.

Demus & Pliers prometem força total
Ainda desconhecidos do grande público no Brasil, Chaka Demus & Pliers é uma das mais perfeitas combinações DJ/cantor já surgidas na terra de Bob Marley. Pliers é um cantor de soul, fã confesso de Stevie Wonder, que duela nas músicas com os toasts engraçados de Chaka Demus. Os dois, ao lado dos produtores Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, detonaram sucessos como "Murder She Wrote" (hit do ano de 92 na Jamaica) e "Tease Me". E se depender da empolgação da dupla, que deu entrevista exclusiva anteontem à Folha, o Brasil também vai cair nas graças de Chaka Demus & Pliers.
Folha - Vocês não são tão populares no Brasil quanto Shabba Ranks e Inner Circle, seus companheiros de show. Como pretendem ganhar o público?
Chaka Demus - Vamos dar 100% de nossa força nestes shows, fazer o povo dançar e trazer alegria às pessoas. Tocar no Brasil era um sonho antigo nosso e esperamos voltar novamente. Dessa vez, com mais tempo para conhecer a música e fazer um pouco de turismo.
Folha - Os DJs jamaicanos costumam ser uns iguais aos outros. Vocês acham que têm um estilo próprio?
Chaka Demus - Sem dúvida. Quando comecei a minha carreira, gostava muito de imitar Nicodemus, outro DJ jamaicano. Aos poucos fui criando meu próprio estilo. Hoje todo mundo consegue ouvir Chaka Demus & Pliers e saber que somos nós que estamos cantando.

Folha - Qual a sua opinião sobre o guntalk, que alguns DJs jamaicanos fazem, falando sobre armas e drogas?
Chaka Demus - Não gosto, acho um pouco perigoso. A música é poderosa, pode influenciar as pessoas de forma negativa.
Pliers - Gostamos de falar sobre coisas mais leves: amor, ou mesmo dar recados para as pessoas. "Murder She Wrote", por exemplo, fala de uma antiga namorada minha que não tinha um caráter muito legal.
Folha - "Murder She Wrote" é uma música de 86, por que foi fazer sucesso só agora?
Pliers - Quando gravei " Murder She Wrote" pela primeira vez, em 86, era um trabalho-solo meu e a produção não era tão boa. A nova versão tem a participação de Chaka e trabalhamos com Sly and Robbie, que são os melhores produtores de toda a Jamaica.
Folha - Explique melhor a importância de Sly and Robbie na produção de "Tease Me", seu disco de maior sucesso.
Chaka Demus - Sly ama o que faz, não está interessado apenas em ganhar dinheiro. Normalmente ele fica pesquisando ritmos e quando acha uma batida que se encaixe em nosso estilo, diz: "Chaka, coloque uma letra nisso". Assim nascem os nossos grandes sucessos.
Folha - Vocês gravaram mais alguma coisa depois do CD "Tease Me"?
Chaka Demus - Sim, fizemos uma versão de "Twist and Shout", um sucesso dos Isley Brothers. Foi outra idéia de Sly Dunbar que deu certo: a música está nos primeiros lugares da parada inglesa.
Folha - Os DJs não costumam ser adeptos da filosofia rastafári. Vocês são rastas ou seguem alguma outra religião?
Pliers - Não, não somos rastas. Chaka Demus and Pliers acreditam em Deus e isso é o suficiente.

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