São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Gabriel enfrenta prova de fogo no M.2000

ALEX ANTUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

É a prova de fogo para Gabriel, o Pensador. Com o disco de ouro já garantido, a caminho das 250 mil cópias do disco de platina, o rapper carioca, de 19 anos, enfrenta a platéia da primeira noite do festival M.2000, hoje, em Santos. Também é a primeira vez que ele toca em São Paulo.
E toca sem banda nem nada: partidário do hip-hop ortodoxo, Gabriel se apresenta acompanhado apenas dos toca-discos do DJ Frias, 20, e de outro rapper, Tito, 27, dividindo os vocais. Só na última música, o hit "Playboy", é que o grupo Cidade Negra sobe ao palco com seus instrumentos. "Lôrabúrra" é o outro carro-chefe do repertório, e Gabriel deve se apresentar por cerca de 30 minutos, entrando no palco depois de outra revelação, o pernambucano Chico Science & Nação Zumbi.
*
Folha - Qual a expectativa de vocês para o M.2000?
Gabriel - Tudo bem. Nosso teste foi tocar no show da Globo em homenagem ao Raul Seixas, o pessoal só queria rock'n'roll. Seguramos a onda legal.
Folha - O que você acha de virar fenômeno pop, tocando para um público bem maior do que o que acompanha o hip-hop?
Gabriel - Está acontecendo aqui o que já tinha acontecido com meus ídolos nos Estados Unidos. É como o Ice-T, que tem uma postura radical mas toca tanto para o gueto quanto para o grande público, branco, burguês.
Folha - Mas como único rapper a fazer sucesso massivo no Brasil você está numa posição bem diferente...
Gabriel - Eu recusei convite de duas gravadoras independentes e aceitei entrar numa multinacional por isso mesmo. Estou abrindo caminho, usando a estrutura de divulgação deles. Agora quero trabalhar como produtor, por exemplo com os Ryo Radikal Repz, que ainda não têm disco mas que podem vir a fazer tanto sucesso quanto eu.
Folha - Suas letras combinam um lado humanista, de defesa dos marginalizados, com alguns ataques bem agressivos...
Gabriel - Não tem contradição. Eu fiquei conhecido por um rap político, "Matei o Presidente", no tempo do Collor, mas acho que letras que atacam o "Playboy", o riquinho alienado, ou a "Lôraburra", a mulher oportunista, hoje têm mais a ver.
Folha - Não é muito sectarismo? Você não tem medo de ser mal-entendido?
Gabriel - Nossa mensagem é explícita demais para ser mal-entendida. Agora eu estou achando mais importante cutucar os governados, não os governantes. Quero mexer com o orgulho das pessoas, perguntar para elas se estão sendo interessadas, sérias na vida, ou se estão sendo manipuladas.
Folha - O "movimento" do hip-hop não está te estranhando? Você é branco, faz sucesso...
Gabriel - Inveja sempre vai ter. Mas como eu te disse, acho que eu estou só abrindo caminho, é uma mera questão de mercado. Temos conhecido bons rappers pelo Brasil todo, convidado muitos deles para abrir nossos shows.

LEIA MAIS
sobre o festival M.2000 no caderno especial "Folha Rock"

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