São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Sinais de esperança

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Alguns lamentam o momento em que vivemos. Há, sem dúvida, coisas erradas, e que nos entristecem: o empobrecimento e a inflação que afligem o povo, a decepção diante do procedimento de representantes políticos, a violência difícil de refrear e a impunidade que favorece o crime. Tudo isso é verdade e faz parte do balanço do ano. Temos, no entanto, que erguer o olhar para Deus e perceber, sempre mais, sinais de esperança.
1993 viu a aproximação entre palestinos e judeus, a superação do apartheid na Africa do Sul, os esforços pela paz em Angola, na Somália e na Bósnia, embora marcados por resistências e novas agressões. Há poucos dias, o Estado de Israel e o Vaticano demonstraram uma atitude de respeito recíproco que consolida as relações pacíficas entre grupos religiosos que vivem em Jerusalém. Em vários países cresceram as exigências éticas, procurando superar a corrupção nos ambientes de governo.
No Brasil, a cidadania vai se tornando realidade até entre os jovens, confirmando entre nós o regime democrático. Fomos sacudidos, é verdade, pelo escândalo do Orçamento e pela ambição de grupos interessados em manter-se no poder, tornando necessária a CPI no seio do próprio Congresso. Ao mesmo tempo, firmou-se a prioridade dos valores morais, o anseio de ética na política, a redescoberta dos cargos públicos, como serviço ao povo e promoção do bem comum.
O país conscientiza-se das enormes diferenças sociais e da legião de empobrecidos, sem terra, sem casa, sem emprego, desnutridos, excluídos. Percebemos ao nosso lado o drama dos meninos e meninas de rua, vítimas não só do abandono, mas dos grupos de extermínio. O anseio dos valores éticos e religiosos levou-nos a encontrar seu fundamento na dignidade da pessoa humana, à luz de Deus.
Daí o compromisso com a vida, desde sua concepção, o Pacto pela Infância, a defesa das populações indígenas, a preocupação com as condições dos presídios, o cuidado com os portadores de HIV, com os migrantes e sofredores de rua e tantos outros.
Nasceu a Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, conquistando adesão em todos os setores do país. A solidariedade desta campanha pode renovar a sociedade e o governo, superando, aos poucos, o enorme peso do individualismo. Para as eleições de outubro esperamos candidatos e programas partidários que respondam, com honestidade e competência, às justas expectativas do povo.
A entrada em 94 ajuda-nos a reconhecer sinais de vitalidade no seio da Igreja: constante magistério do santo padre com a recente publicação da encíclica "Veritatis Splendor", afirmando os fundamentos éticos, frente a todo relativismo moral, e a surpreendente divulgação do Catecismo da Igreja Católica nas suas diversas traduções.
O Ano Novo em todo o mundo, especialmente na Igreja, anuncia a família como prioridade. Abre-se o Ano Missionário na América Latina. Prepara-se para outubro o Sínodo sobre a Vida Consagrada. No Brasil as semanas sociais apontam para alternativas melhores, formando as comunidades cristãs para o exercício da cidadania.
Diante de 94 o olhar é de esperança. Para isso é preciso confiar em Deus, corrigir erros, renunciar a privilégios, unir forças e tornar humana a vida dos 32 milhões de brasileiros carentes.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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