São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Emenda permite utilizar o FGTS

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as diversas emendas encaminhadas à revisão constitucional, o Ministério da Fazenda incluiu uma com o objetivo de viabilizar a utilização dos fundos sociais (especialmente o FGTS, o PIS e o Pasep) no programa de privatização. Há diversas maneiras criativas de organizar essa participação, conforme estudos orientados pelo presidente do BNDES, Pérsio Arida. Uma delas permitiria que os participantes dos fundos trocassem, voluntariamente, suas contas ou quotas por ações de empresas privatizadas.
A utilização dos fundos sociais e suas dívidas teria ainda o objetivo de aumentar a quantidade das chamadas "moedas de privatização", que estão acabando. "Moedas de privatização" são créditos que pessoas e instituições têm contra o governo e que podem ser trocados por títulos válidos para compra de estatais.
No momento, essas moedas somam algo entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. Sem levar em conta as novas possibilidades a serem abertas pela revisão constitucional, o programa de privatização prevê a venda neste ano de 33 estatais, no valor estimado de US$ 5,2 bilhões, sendo que US$ 2,16 bilhões deverão ser pagos em dinheiro vivo. Serão necessários, portanto, US$ 3 bilhões em moedas de privatização. A conta é justa.
Com novas moedas à disposição, certamente as estatais poderiam ser vendidas a preço maior. O patrimônio do Pis-Pasep, por exemplo, vai a pouco menos de US$ 9 bilhões. O do FGTS é quase três vezes maior.
O caminho da privatização é também o melhor meio de "matar" dívidas do governo, sem o recurso a mais impostos (o que é recessivo) ou à emissão de dinheiro (o que é inflacionário). Basicamente, a coisa funcionaria assim: o governo, em suas diversas instâncias, deve dinheiro aos fundos sociais; para saldar essas dívidas, entrega títulos a esses fundos; e os fundos trocariam os títulos por ações de estatais.
Diversas confusões de dívidas públicas seriam desfeitas. Um exemplo: a Caixa Econômica Federal é credora dos governos federal e estaduais. Emprestou dinheiro para os governos construirem casas populares ou obras de saneamento. O dinheiro vinha dos recursos do FGTS, de modo que a Caixa deve para o FGTS. E os governos não pagaram a Caixa. A idéia seria então refazer esse circuito, zerando as dívidas: o governo federal assumiria toda a dívida e entregaria títulos à Caixa, que os repassaria ao FGTS, que os utilizaria na compra de estatais. A mesma coisa poderia ser feita com o Pis-Pasep.
O importante nesse processo é que tudo seja voluntário, diz a diretora de Privatização do BNDES, Helena Landau. Especialmente porque ações constituem investimento de risco, que podem valorizar ou desvalorizar. Assim, pelos estudos em andamento no BNDES, seria oferecida a alternativa aos participantes dos fundos: continuar com a quota, que rende correção e juros, ou arriscar trocar por ação de empresa privatizada.
No caso de compra de estatais feita diretamente pelos fundos, a operação teria de ser comandada pelos conselhos curadores e de administração, que têm participação de entidades sindicais. Tudo exige nova legislação.

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