São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Collor planeja viajar para Paris no próximo sábado

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Collor de Mello planeja uma viagem com destino inicial a Paris. A saída do Brasil está prevista para o próximo sábado, dia 15. A viagem está sendo preparada de forma muito reservada e foi decidida em Maceió, onde o ex-presidente está passando uma temporada de descanso na praia.
Precavido, para evitar qualquer insinuação de que estaria fugindo do país, Collor pretende comunicar ao STF (Supremo Tribunal Federal) o seu vôo para a Europa. Legalmente nada impede a viagem. O ex-presidente não sofreu nenhum tipo de condenação nem sequer vive o incômodo de um pedido de prisão preventiva.
A comunicação ao STF é apenas uma maneira de mostrar respeito aos ministros do Supremo, onde tramita o processo por crime comum contra ele. O ex-presidente é acusado de formação de quadrilha e prática de corrupção passiva. A denúncia que originou o processo foi feita pelo procurador-geral da República, Aristides Junqueira.
O temor de que a saída para a França possa resultar em insinuações sobre fuga, como era comentado nos últimos dias entre políticos alagoanos, fez com que ex-presidente tomasse todos os cuidados para manter o conhecimento da viagem restrito a poucas pessoas. A divulgação precipitada, na avaliação que Collor revelou a amigos, poderia atrapalhar os seus planos.
Exagero
A preocupação do ex-presidente com o STF tem levado a exageros. Antes de sair de Brasília, na semana passada, com destino a Maceió, Collor consultou um advogado para saber se precisaria comunicar a viagem ao ministro Ilmar Galvão, responsável no STF pelo processo.
O advogado informou que não seria necessário e que somente em viagens mais longas –com previsão de permanência superior a oito dias– seria recomendável o aviso ao ministro.
A ida a Paris seria uma forma, de acordo com os amigos, do ex-presidente aliviar a angústia da perda dos seus direitos políticos. Collor não pode ocupar cargos públicos até dezembro do ano 2.000. Os fiéis aliados de Collor têm incentivado a viagem à Europa.
Nas conversas que manteve recentemente com os amigos alagoanos, o ex-presidente chegou a falar na permanência de dois meses em Paris, cidade que o anima e para onde costumava ir pelo menos uma vez por ano antes de enfrentar as denúncias que levaram ao processo de impeachment.
O ato de comunicar viagens ao STF foi inaugurado por Paulo César Farias, o PC, que avisou a sua ida a Barcelona, na Espanha, no final de 1992. PC cumpriu, na ocasião, o que havia prometido ao ministro Ilmar Galvão: voltou depois de pouco mais de um mês de viagem.
O advogado Cláudio Vieira, ex-secretário particular de Collor, também seguiu a mesma linha. Para se deslocar duas vezes a Montevidéu, onde tratava de asssuntos referentes à sua defesa no caso da "Operação Uruguai", Vieira avisou ao STF. As viagens aconteceram no início do ano passado.
A Folha procurou falar com o ex-presidente nos últimos três dias, sobre a preparação da saída do Brasil para a Europa. Ele não atendeu a nenhum telefonema nem deu retorno aos recados trasmitidos a funcionários da casa onde se encontra hospedado em Maceió.

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