São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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A CPI atinge a sucessão

JANIO DE FREITAS

A CPI do Congresso alvejou duramente uma das pretendidas candidaturas à Presidência, e logo a mais óbvia de todas. A coincidência entre as revelações sobre o esquema da Paubrasil e a realização da CPI lançou os políticos do PPR de Maluf, primeiro, em um problema inquietante e, depois, em uma solução promissora, que está sendo cuidadosamente articulada: o senador Passarinho que a CPI projeta (com esmerado auxílio do próprio) ao nível dos candidatos presidenciais.
As revelações sobre o esquema da Paubrasil produziram efeitos em dois planos. Maluf perdeu todo o investimento que vinha fazendo para a alteração de sua imagem e, se confirmada a candidatura, nela haveria um flanco aberto para ataques devastadores dos adversários.
O outro plano é dos efeitos sobre os políticos do PPR, que, fortalecido por grande número de adesões de conservadores, terá nos Estados uma quantidade imensa de candidatos, em todos os níveis eleitorais. E para todos esses, como perceberam os políticos mais experientes do partido, Maluf tornou-se o que em política chamam de candidato pesado. Os candidatos estaduais teriam a difícil ou impossível tarefa de defendê-lo e, na proporção em que o fizessem, se sujeitariam a desgastar as próprias candidaturas, expostas a identificações com um esquema tão semelhante ao de PC/Collor, ainda bem vivo nas memórias. Mas a dificuldade de um nome alternativo mostrava-se insuperável.
A CPI ofereceu a solução. Com o capricho ainda de dar ao PPR um nome que, além de politicamente à altura da necessidade do partido, acompanha-se da imagem de probidade, anulando por completo os efeitos do esquema Paubrasil nos Estados –exceto São Paulo. A dificuldade, agora, é superar a persistência de Maluf em sua candidatura –operação que está sendo cuidadosamente estudada por integrantes da cúpula do PPR.
Isto é seleção
Os três representantes das entidades civis na comissão de investigação do governo, que está se instalando, não podiam ser melhores: Raymundo Faoro, Fábio Konder Comparato e Emerson Kapaz. Além de tranquilidade, estes representantes dão orgulho aos representados.
Dos três, só um deveria ser nomeado. Diante da qualidade da lista tríplice oferecida à escolha de Itamar Franco, originária do Movimento pela Ética na Política, o presidente preferiu aumentar a comissão e nomear os três.
O mago
O ministro Fernando Henrique adverte que os economistas que fazem estudos de previsão de inflação não têm autoridade para fazê-los. Seu argumento mais sólido: "Eles não são magos".
Ele é. Tanto que em junho previu inflação de 15% para dezembro (a magia incorreu no pequeno erro de 150%, com a inflação perto de 38% previstos por muitos economistas). E, em dezembro, difundiu a previsão de que o índice de junho será de 3%. Mas a essa altura ele já estará fazendo previsões sobre seu desempenho eleitoral, que já cometeu na cadeira logo depois ocupada pelo vencedor Jânio Quadros.

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