São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Zico teme arbitragem na 'última decisão'

DA REPORTAGEM LOCAL

Chegar à final da J-League, a última de sua carreira, é a maior recompensa que Arthur Antunes Coimbra, 40, poderia ter após dois anos e meio de trabalho para popularizar o futebol no Japão. Zico estará provavelmente no banco de reservas, por causa de uma insistente contusão no músculo adutor da coxa direita. Ali ele passou a maior parte da competição contundido e trabalhando como auxiliar-técnico.
Em maio, quando seu contrato acaba, Zico pára de jogar. "Não dá mais. Se pudesse, até parava agora". Passará a ser consultor do Kashima, indo ao Japão quatro vezes por ano para preparar jogadores e organizar intercâmbios. Seu irmão Edu assume o comando do Antlers em fevereiro. Em entrevista à Folha, Zico falou de seu livro "A respeito de ser líder", lançado no Japão este mês (primeira de uma série de cinco publicações) e acusou os juízes de prejudicar seu time e beneficiar o Verdy.(André Fontenelle)
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Folha - Muita expectativa para a decisão?
Zico - Há um equilíbrio muito grande das forças. As duas equipes fizeram por merecer chegar à condição a que chegaram. Não existe favoritismo. A única coisa com que me preocupo é o problema de arbitragem, que vem nos prejudicando o campeonato inteiro. E é a primeira vez que o árbitro da decisão não será estrangeiro.
Folha - Por quê?
Zico - Não sei. Na primeira fase, foi um inglês, na outra, um argentino. Agora deixaram para os japoneses. Então, como a gente não tem peso na Federação –time do interior–, o Yomiuri Verdy ganha vários jogos na base do apito. Não precisa disso, mas ganha. Tenho muito medo do esquema que possa prevalecer. Já fomos altamente roubados na Copa do Imperador (derrota por 4 a 0, na prorrogação, para o Yokohama Flugels, após empate em 2 a 2 no tempo normal).
Folha - Vocês levaram quatro gols na prorrogação.
Zico - É, mas o problema não foi a prorrogação. Nós jogamos mais de 70 minutos com dez. Foi expulso um dos nossos, fizeram dois gols de pênalti no tempo normal, um pênalti escandaloso que não houve. Fomos eliminados da Copa Nabisco sendo roubados.
Folha - Isso o surpreende? Você esperava encontrar no Japão algo diferente do Brasil?
Zico - Eu esperava encontrar uma certa falta de noção de o que é profissionalismo. Agora, em termos de arbitragem, eu vejo má-fé mesmo. É muita coincidência. Talvez por eu bater nessa tecla de arbitragem, eles só erram contra nós. Para você ter uma idéia, houve uns 15 gols anulados durante o campeonato inteiro e 10 a 15 pênaltis não marcados. Tivemos dois pênaltis a favor e seis contra. É muita coisa.
Folha - Você disse que o Yomiuri não precisa disso. Ele é, de fato, mais forte?
Zico - É um time mais forte, que tem os melhores jogadores japoneses. Só que, quando eles estão mal, dá-se um jeitinho para colocá-los em cima. Quanto aos dois times dentro do campo, não tenho o menor medo deles, porque nosso time joga de igual para igual. O problema é que talvez eu não vá jogar. E, na decisão, isso pesa.
Folha - Você está acompanhando a crise da arbitragem carioca? Há semelhanças?
Zico - Lógico que aí no Brasil houve uma coisa clara, porque houve a denúncia do árbitro. Então é diferente. Aqui, o que todo mundo diz é: "Ah, eles são ruins mesmo". São ruins quando querem ser ruins. Você não pode comprovar muito, pode até não ter nenhuma grana no meio, mas o cara entra predisposto a favorecer um time.
Folha - Você lançou um livro no Japão. O que ele conta?
Zico - Ele fala do trabalho de liderança para levar o time a essa condição. É um paralelo com o cara que dirige uma empresa. Como você faz os funcionários se integrarem de corpo e alma ao trabalho, o técnico tira mais dos jogadores. É um livro muito interessante, porque fala desse relacionamento, que é a maior dificuldade aqui do Japão: haver diálogo entre quem comanda e quem é comandado. É uma das coisas mais importantes que eu pude passar em termos de know-how daquilo que eu aprendi. Convivência com grandes jogadores, técnicos e dirigentes. Com maus, também. É destinado aos líderes japoneses.
Folha - Algum dos brasileiros que atuam no Japão teria vez na seleção brasileira?
Zico - Teria. Na minha seleção, o Carlos Alberto Santos estaria. O Alcindo está muito bem, embora tenha caído. Mas ele joga numa posição que tem muitos jogadores bons aí. O Bismarck está muito bem. Mas o Carlos Alberto Santos joga numa posição diferente, que a meu ver falta no Brasil, o número oito.

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