São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Copa SP antecipa as atrações do futebol

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E a bola rola na Copa São Paulo, uma tradição de olho no futuro, reencontro no verão das águas de cada ano com a expectativa do que virá em breve. Quais as próximas atrações neste inesgotável futebol brasileiro que se renova numa velocidade alucinante? É o que veremos a seguir, logo após o intervalo deste domingo sem bola.
Na sexta super, première da série, o São Paulo, campeão do ano passado, não revelou nenhuma surpresa, diante do Cerro Porteno. Apenas deu um show de toque de bola, precisão nos passes, velocidade e várias coreografias improvisadas por Catê e Toninho, já veteranos da competição, que foram do genial ao hilário. Catê, então, parecia ter recebido o espírito irreverente de Garrincha. A tal ponto que reproduziu fielmente uma jogada do Mané que se repete à eternidade no filme "Garrincha, Alegria do Povo": bola entre as pernas do primeiro João paraguaio e do segundo também; Mané Catê, então, recebe uma rasteira do vento, cai, rola como a bola, levanta-se e perfura outro túnel sob as pernas dos dois joões seguintes. O que acontece depois já não mais interessa.
Isso, sem falar no gol de placa que o endiabrado ponta tricolor marcou, numa disparada pelo meio, tabelinha vertiginosa com Jamelli, e o tiro certeiro, na cara do goleiro. Por falar em Jamelli, o menino fez dois dos quatro do seu time. Mas entra na história da Copa pelo gol perdido: uma sequência irresistível de passe entre todo o time, a limpada de bola na área e o toque cerebral, régua e compasso, por cima do goleiro. Congele-se a imagem quando a bola, caprichosamente, bate no travessão.
Eu disse que o São Paulo não apresentou nenhuma novidade, e esclareço –dentro das quatro linhas. Pois, no banco, estava Murici, o novo treinador dos meninos tricolores. E, enquanto a bola se divertia no gramado com aquela molecada arrelienta, a cada drible, a cada toque surpreendente, a cada matada no peito, a cada passe de trivela, era o Murici que estava em campo. O mesmo Murici, quase de fraldas, que surgiu no inesquecível torneio Dente-de-Leite inventado por Roberto Petri e Ely Coimbra, na extinta TV Tupi, há uns 30 anos, sei lá. Em cada jogo, uma festa de gols e fantasia. Só vendo o que esse menino fazia com a bola. Indescritível.
Ao ser lançado no time titular do São Paulo, já beirando os 20 anos de idade, em 75, creio, prometia mais do que Zico. Mas uma entrada criminosa de Mário, volante do Botafogo, arrebentou-lhe o joelho direito e Murici nunca mais se recuperou. Zanzou pelo México, voltou, e cedo teve de pendurar as chuteiras.
Sexta à noite, no Pacaembu, não sei por que magia, 11 meninos com a camisa tricolor, por 45 minutos, vestiram aquelas chuteiras de ouro.
*
No início, eram os ingleses, inventores do futebol, que saíam pelo mundo ensinando táticas e estratégias aos bárbaros iniciantes nesse jogo fascinante da bola. Tanto que os italianos, que nem de "football" chamam o calcio que eles juram ter inventado, aos treinadores chamam de "mister".
Mas, já na segunda década do século que se esvai, os húngaros, de Dori Kruschner a Bella Guttman, viraram os mestres do mundo da bola. E assim foi até os 70, quando, de repente, os iugoslavos se multiplicaram pelos continentes, de varinha de marmelo na mão.
Não é esse o caso do Bragantino, que até campeão já foi, mas a vinda de Drascovic, ex-Equador, é para ser saudada com uma taça do melhor vinho branco dos Bálcãs.

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