São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Dicas para quem vai construir na praia

ROBERTO VINOGRAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

A velha solução de mandar as coisas já em desuso para o sítio não dá certo quando se trata de casa de praia. Porque as arcas e os baús que vão até o chão impedem a circulação do ar, favorecem a umidade e deliciam os borrachudos.
É preciso selecionar cuidadosamente a técnica da construção. Por causa do tempo, em geral imprevisível, e da estação das chuvas é necessário cobrir a obra o mais rápido possível. Por isso, é aconselhável que se faça um sistema de colunas e vigas, que podem ser de madeira ou concreto, independente das paredes. Jamais de ferro, por causa da ferrugem.
As colunas devem estar apoiadas sobre fundações, que dependem do tipo de terreno. Sobre a areia, pode parecer o mais difícil, o mais "trágico", mas por incrível que pareça é o mais fácil, porque as fundações são diretas. Quem comprou na areia pagando mais caro vai economizar nas fundações. Se o terreno for de terra argilosa será necessário utilizar brocas para as fundações e, se em encostas, serão necessárias até estacas. Conclusão: você pagou menos, terá uma vista maravilhosa, mas as fundações representarão até 25% do custo.
Os maiores inimigos de quem gosta de mar são a umidade, o calor e os insetos. Não é recomendável assentar a casa no chão. Pequenos porões, como se fazia antigamente, evitam a pior umidade –a que vem do chão–, porque é a que mancha as paredes, as mantêm molhadas e causa o mofo.
A umidade ambiente, por outro lado, dificilmente condensa e pode ser evitada com um sistema natural de arejamento. Isso significa captar as brisas através da localização de janelas e portas em todas as faces. Vence aquele que opta por uma casa transparente.
O mesmo acontece com quem adota para combater o excesso de calor a seguintes soluções:
*Colocar isolante térmico, por exemplo lã de vidro, no telhado. Não se deve colocar telha à vista porque a cerâmica absorve o calor do sol e irradia tudo o que absorveu.
*Quanto maior o pé-direito, melhor, pois o ar frio desce, deslocando o ar quente para cima. Completa-se a expulsão do ar quente utilizando-se aberturas estratégicas no forro.
Antigamente, usava-se lanternas de arejamento. Na Polinésia, os nativos deixam aberturas na parte superior dos telhados de sapé. Aqui, basta não fechar a distância entre o caibro e o forro. A solução de laje horizontal, com uma cobertura de madeira e telha só funciona quando a suposta câmara de ar não é hermética –ela também deve estar ventilada.
Para evitar a irradiação do calor através das paredes é bom colocar largos beirais, que fornecem sombra constante (para as paredes). De quanto deve ser o beiral? Mais ou menos 1/4 da altura da parede. Também é preferível para isolar o calor usar tijolo maciço em vez de blocos ou tijolos com furos.
A respeito do outro grande inimigo de quem constrói no litoral, os insetos, tomando-se as devidas precauções, garante-se o conforto. Ventiladores no teto afugentam borrachudos e pernilongos. Existem também aparelhos elétricos que vaporizam inseticidas inócuos para crianças. Os antigos e charmosos mosquiteiros ainda são usados na China e na Malásia. Aquelas dicas de que certas plantas, como a citronela, afugentam os insetos não são confiáveis, a menos que exista uma palavra mágica que desconheço. E, finalmente, não construa peitoris não vazados, pois os borrachudos adoram ficar ao pôr-do-sol até uma altura inferior a um metro, onde não tem vento.
Esperamos que, com tudo isso, no próximo verão sua estadia à beira-mar seja tudo que você tem direito, incluindo um mês inteiro sem chuvas.

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