São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Ocidente ainda investe em força militar

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Guerra Fria deixou uma herança inesperada: orçamentos militares difíceis de reduzir. A esperança de que o fim da rivalidade leste-oeste trouxesse um "dividendo de paz" substancial ainda está longe de ser realidade. Cortar radicalmente os gastos militares traria desemprego em massa. Além disso, a burocracia militar resiste aos cortes com os argumentos mais variados.
O mundo ainda gasta 25 vezes mais para manter um soldado do que para educar uma criança. O planeta gasta cerca de US$ 600 bilhões por ano com forças armadas. A maior parte da despesa fica por conta da Otan.
Durante o auge do armamentismo da era Reagan, a Marinha americana dizia que uma frota de 600 navios era essencial para defender o "mundo livre", incluindo 15 porta-aviões gigantes. Hoje se fala em uma marinha de 451 navios com 12 porta-aviões.
Programas nascidos durante a Guerra Fria e destinados exclusivamente a ela continuam sendo tocados. É o caso do bombardeiro americano B-2, feito para pulverizar nuclearmente a URSS, com pouca utilidade em uma guerra convencional e nenhuma para uma missão da paz na Somália, Bósnia ou Angola. O plano original de construir 132 B-2 foi reduzido para apenas 20. O orçamento americano de 93 alocou quase US$ 4 bilhões para desenvolvimentos adicionais do bombardeiro e construção de quatro deles. A esse preço, valem mais que seu peso em ouro.
O tamanho menor das forças esconde o fato de que a sua modernização continua, embora não tão aceleradamente quanto antes. Armas mais novas e com tecnologia mais avançada custam mais caro. Os EUA têm o melhor caça de todos, o F-15, mas planejam substituí-lo pelo F-22.
Houve uma inversão radical no balanço de forças na Europa. Antes, os soviéticos chegaram a ter superioridades de até cinco vezes em número de tanques. A Otan confiava em armas com tecnologia superior. Hoje os aliados ocidentais ganham em números e em tecnologia. Muito do arsenal da URSS já virou ferro-velho. A guerra no Kuait mostrou a superioridade do armamento ocidental. Por exemplo, os tanques iraquianos de fabricação soviética tinham bons canhões, mas a falta de miras eletrônicas para uso noturno os transformou em alvo fácil dos adversários americanos.
A situação não muda tão já. O Congresso americano até concede dinheiro para projetos que não interessam aos militares, como o híbrido de avião e helicóptero V-22 Osprey. (RBN)

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