São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Corporativismo selvagem

O espírito de corpo é uma instituição humana tão antiga quanto as profissões. A profunda e extensa institucionalização da vida moderna levou o corporativismo a extremos em toda parte. Talvez seja uma praga impossível de erradicar em toda e qualquer burocracia, pública ou privada.
Entretanto há um limite para a defesa de interesses localizados. Os exemplos de regalias nas estatais brasileiras falam por si. A Telebrás dá a seus funcionários empréstimos sem juros nem correção monetária. Na Caixa Econômica Federal, no Banco Central e no BNDES, as "comissões especiais" por exercício de cargos de confiança são distribuídas com uma benevolência no mínimo irresponsável. Na Petrobrás, um burocrata que não sai do gabinete recebe adicionais por riscos previstos apenas para o trabalhador que fica na plataforma marítima.
Os fundos de pensão constituem um capítulo à parte. A apropriação de recursos para engordar a aposentadoria complementar nas estatais escapa a qualquer critério que não o interesse estrito dos estatocratas.
Cada funcionário de estatal torna assim mais veemente no cidadão comum a sensação de absurdo frente à própria preservação dessas empresas como "públicas". As regalias com que se fartam, às custas do contribuinte, do consumidor e das empresas privadas, são obstáculo chocante ao anseio geral de ajuste econômico e moral do país.
Como o espírito de porco que se compraz em atrapalhar todo e qualquer esforço coletivo, as estatais e seus funcionários praticam, à sombra do Estado, uma sabotagem contínua e multiforme das tentativas da sociedade brasileira de sair inteira da crise.

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