São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Os mortos-vivos

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Os ex-governadores Wellington Moreira Franco, do Rio, e Newton Cardoso, de Minas, estão de volta. O fato merece registro porque os imaginávamos afastados da vida pública, cuidando apenas de seus interesses particulares. Mas o particular às vezes necessita do público e temos os dois de volta.
De uma safra de governadores medíocres, a de 1987-91, eles foram dois dos piores e deixaram o governo para o ostracismo. Para se ter uma idéia, Moreira Franco foi eleito em 86 com 45% dos votos dos fluminenses; acabou seu mandato com apenas 26% dos eleitores dizendo que votariam nele novamente. Não fez seu sucessor e nem conseguiu qualquer influência na eleição seguinte, para prefeito.
A situação de Newton Cardoso era igual. Depois de quatro anos no governo, 41% consideravam sua administração ruim ou péssima, contra 22% de ótimo e bom. Também perdeu força política no seu Estado.
Moreira continua no indigente PMDB do Rio, tem sua força principalmente no interior, participou há pouco de uma troca de insultos com o prefeito César Maia e acaba de ser condenado a devolver aos cofres públicos dinheiro que gastou com propaganda indevida.
Newton Cardoso também continua no PMDB, também tem seu principal reduto no interior, é candidato declarado à reeleição, está tentando processar um jornal de Minas que publicou pesquisa em que é apontado como o político mais corrupto do Estado e está ameaçado de ter seus direitos políticos cassados pela Assembléia Legislativa.
Os dois submergiram esperando que o país os esquecesse e voltam estimulados por tantos exemplos de reabilitados pelo tempo. Não chegaram a ser condenados por corrupção –até porque, na nova cronologia com que se escreve a história do Brasil, são políticos pré-CPIs, não foram submetidos ao rigor dos novos instrumentos investigativos. Mas foram condenados pela opinião pública por incúria, má administração, mediocridade. Estão de volta e vamos ter de aguentá-los. O pior é que o país não ficou melhor sem eles. Haja paciêcia!

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