São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Privilégios e gatunagem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A Telebrás dá a seus funcionários um empréstimo de oito meses sem juros ou correção monetária. A Petrobrás confere um adicional de "periculosidade" não apenas a quem trabalha em situações perigosas, mas também aos que estão num confortável gabinete onde o maior risco é o garçom derrubar o cafezinho na camisa de alguém. Esse adicional é de "apenas" 30% do salário. Traduzindo: gatunagem.
Há razões respeitáveis, embora se possa discordar, contra a privatização das empresas estatais. É gente sinceramente convencida de que o poder público deve agir como empresário em vários setores afim de estimular o desenvolvimento. E mais: não aceita (e com razão) que um monopólio público se transforme em privado.
Por tras de argumentos aceitáveis, há também a gatunagem. Ou seja, os milhares de servidores que simplesmente não querem perder privilégios, expostos, agora, por um relatório produzido pelo governo. É um show de escândalos patrocinado com dinheiro alheio.
Em subsidiárias da Telebrás, pessoas em cargo de chefia ganham comissão apenas porque dirigem seu veículo. Na Caixa Econômica Federal funcionários que já tiveram e perderam "funções de confiança" são agraciados com uma gratificação extra de CR$ 138 mil. A Eletrobrás paga US$ 245 mil para a aposentadoria de seus funcionários mais graduados a Petrobrás paga CR$ 226 mil. E por aí vai.
Faz parte da gatunagem uma grosseira munipulação. Quem ataca as estatais é "direita" e os que defendem "progressistas" –um amplo segmento do PT, ligado ao corporativismo das estatais, adora propagar essa visão.
Não consigo ver como "progressista" tirar dinheiro das camadas excluídas para sustentar privilégios. Eles, na prática, reproduzem a visão predatória dos empresários que recebem favores indignos.
A propósito, o deputado José Genoino, da ala lúcida do PT, faz a seguinte pergunta: "Caso Lula chegue ao poder, os funcionários da Caixa Econômica Federal, Petrobrás, Banco do Brasil, entre outros, terão o direito de indicar seus diretores e presidentes. Se tiverem, conseguirão indicar pessoas mais preocupadas com o contribuinte do que com o funcionário?

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