São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Comédia de uma família fuleira

INÁCIO ARAUJO

Aproveite "Parente É Serpente". Filmes italianos tornaram-se uma solene raridade no mercado. E mais raro ainda é aquele humor debochado, sem vergonha, crítico, ora fino ora cachestro, que constituiu uma belíssima tradição antes de deixar seus fãs ao deus-dará. O novo filme de Mario Monicelli é tudo isso. Mas (o que é melhor) ninguém espere uma viagem nostálgica ao passado de Totó e companhia. O velho Mario está beirando os 80 anos, mas vem com os dentes afiados e o olhar no presente. Pode-se reclamar que a festiva reunião natalina de "Parente É Serpente" demora um pouco para engatar. Antes que o humor role solto, somos apresentados a cada um dos filhos do casal. Mas isso não chega a ser um defeito: essa delicada introdução acaba por enfatizar a extensão do problema que emerge quando os velhos pais colocam a batata quente na mesa: estão velhos demais e agora querem morar com algum dos filhos. A singela proposição desencadeia o vale-tudo. Cada um mostrará que seus próprios problemas o impedem de ficar com os velhinhos. Se a partir disso Monicelli trata de uma Itália enriquecida, não é para reforçar o estereótipo segundo o qual dinheiro e generosidade não formam par. Em questão está a impossibilidade de existência moral num mundo dominado pelo individualismo. Não é inédito, mas tem sintonia.
– Inácio Araújo

Parente É Serpente (Parenti Serpenti). Itália, 1993. Direção de Mario Monicelli. Belas Artes/sala Cândido Portinari: 17h30, 19h30 e 21h30 (finais de semana, início às 15h30).

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