São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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É hora de terminar o complô do vestibular

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O silêncio. Procuram-se as razões pelas quais a sociedade civil brasileira não deu um fim nos vestibulares. Cumplicidade. Imagino que interessa a uma minoria a continuação das formas seletivas que garantam a ela a perpetuação do poder.
Filho de rico estuda em colégio bom, filho de rico é que vai para a universidade, aprender a manejar os lucros oferecidos, para garantir a prosperidade de sua família. Um Brasil se afasta do outro. Um Brasil se garante.
Me pergunto por que a Fiesp, os partidos, os sindicados, as associações civis, as organizações estudantis, a imprensa e o Estado nunca incluíram na pauta a extinção do vestibular.
Penso na direção da UNE, procurando conciliar correntes de pensamentos imperfeitos, escrevendo o acordo entre a linha do PC do Butão com a ala Sudão, em contato direto com a vanguarda do proletariado da Cochinchina. Conivência.
Na UNE habita o líder universitário que já prestou (e passou) o vestibular; vanguarda que se preze olha para o futuro. E as carcaças velhas do fisiologismo acadêmico têm seus empreguinhos garantidos no andar indicado "Fuvest".
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Para se candidatar ao mestrado de Letras da Unicamp, basta apresentar uma biografia com as intenções que o levaram a escolher tal curso. Faz-se uma prova de inglês e uma entrevista com três professores do departamento; até 1991, Roberto Schwartz, um dos maiores críticos literários do país, era um dos encarregados pelas entrevistas.
A universidade de Stanford, nos Estados Unidos, exige, além do histórico escolar, uma "biografia intelectual que descreva os valores que o levaram a escolher tal curso, discutindo a origem desses valores".
Se os moribundos da Fuvest têm preguicinha de ler ou de entrevistar tantos candidatos, poderiam pedir ajuda ao corpo docente da universidade. Um candidato à vaga de publicidade poderia, também, criar uma propaganda. Os de jornalismo, escrever sobre a imprensa no Brasil, sugerir pautas, e enviar reportagens feitas por eles.
Mas não. São obrigados a responder, como os candidatos do último Fuvest, que o poema "Libertinagem", de Manuel Bandeira, contém os título de dois outros "famosos" poemas: "Teresa" e "Porquinho da India". Não é lindo?

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