São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Os buracos de Maluf

O prefeito Paulo Maluf pretende marcar sua gestão através de grandes obras viárias na cidade de São Paulo. Maluf também parece querer fazer de um conjunto de pontes, túneis e avenidas o símbolo de uma possível candidatura presidencial. Mas esse ímpeto de realizar está atropelando o direito dos cidadãos de serem bem informados sobre a utilização do seu próprio dinheiro.
A Prefeitura demorou três semanas mais do que o prometido para divulgar o laudo sobre o acidente nas obras de um túnel da zona sul da cidade. Entre os dias 24 e 26 de novembro o desabamento da galeria de um córrego, causado pelos trabalhos de escavação, provocou o surgimento de duas crateras nas avenidas sobre o túnel. Desde então, o governo municipal obstruiu o trabalho da imprensa no local e limitou as informações sobre o caso a lacônicos e quase nada informativos boletins oficiais, deixando a população da região intranquila.
Agora, o secretrário de Obras da cidade diz que vai ignorar a determinação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo de interromper a instalação do sistema de exaustores de outro túnel, os quais causariam excessiva poluição sonora numa região residencial. Se o secretário discorda da resolução deve procurar tomar as medidas cabíveis, até na Justiça se for o caso, e não desrespeitar as decisões de um órgão que representa os interesses da população na área ambiental.
A maioria dos paulistanos aprovou nas urnas o projeto malufista de transformar a cidade em um canteiro de obras. Mas não deu carta branca ao prefeito para realizá-las a qualquer custo, sem dar satisfações sobre acidentes de percurso ou a críticas da sociedade ao modo como os trabalhos vêm sendo conduzidos. É a população que paga as contas. E são os paulistanos que podem arcar com os perigos de obras malfeitas.

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