São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 1994
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Crichton narra duelo sexual em novo livro

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Você acreditaria em um homem que, preterido por uma mulher para uma promoção, acusa-a de tentar forçá-lo a fazer sexo com ela? E se ela for bonita, atraente, sexy e, mais que isso, ex-namorada dele? Provar a acusação e vencer o duelo com a nova chefe são os desafios do personagem central de "Disclosure", novo livro de Michael Crichton.
A idéia de Crichton é simples: um caso de "sexual harassment" (molestamento sexual) com os papéis invertidos. A habilidade com que ela joga as cartas dos estereótipos, das idéias pré-concebidas e das relações de poder entre os sexos é que faz o livro interessante. "Disclosure" (Desfecho), que acaba de ser lançado nos EUA com tiragem inicial de 900 mil cópias, está destinado a reacender a polêmica em torno do tema.
No livro, Crichton sustenta que o número de processos movidos por homens contra mulheres aumenta exatamente na mesma proporção que o número de mulheres ocupando cargos de chefia. Trata-se de uma questão de poder, não de machismo ou feminismo, argumenta a fria advogada de Sanders, Louise Fernandez.
Thomas Sanders, 41, é um talentoso executivo de uma indústria de ponta no ramo das comunicações, prestes a acertar sua incorporação a uma grande editora em Nova York. Na eternamente chuvosa Seattle, Sanders toma seu café numa segunda-feira que, acredita, será o dia de sua promoção a um importante cargo de direção. Mas a empresa quer uma mulher e escolhe, justamente, sua ex-namorada Meredith Johnson.
O dia começou mal. Mas, antes que termine, reserva outra surpresa desagradável ao ex-futuro-diretor. Convidado pela insinuante chefe para uma reunião de fim de tarde regada a vinho, Sanders é assediado –ou melhor, atacado– sexualmente por ela. Ele se sente atraído, mas agora está casado, tem filhos e sobretudo, não deseja uma relação com alguém que possa demiti-lo. Sanders diz não. E sua vida vira um inferno.
"Disclosure" dura apenas quatro dias. Quer dizer, seus capítulos são nomeados com os dias da semana, de segunda a quinta-feira. Narrado em ritmo tenso e ágil, faz com que o leitor acompanhe a intricada política interna da DigiCom apaixonadamente. Só quem já leu Michael Crichton vai crer que é possível seguir as tecnicalidades da produção de computadores ou telefones celulares.
Nesse pequeno espaço de quatro dias e quatro noites, "Disclosure" vai fundo na análise das conexões entre sexo e poder. Mas engana-se quem acredita que a trama se resume à cena de assédio em fim de expediente. Ao longo das 400 páginas, o leitor vai ligando os fios soltos do relato de uma verdadeira guerra pelo poder. Isso que faz de "Disclosure" um livro magnetizante, um daqueles que só se consegue largar depois de chegar à última página.

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