São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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México admite negociar com rebeldes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo mexicano reconheceu ontem os rebeldes do sul do país como uma força política, ao propor negociações diretas com o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional). O presidente da Comissão para a Paz e Reconciliação, Manuel Camacho Solís, disse que seu objetivo é buscar "o mais rápido possível" uma trégua e, depois, iniciar um diálogo.
Até agora, o governo do presidente Carlos Salinas de Gortari insistia no cessar-fogo unilateral e na entrega das armas dos rebeldes antes de iniciar as negociações. "Discordo totalmente dos métodos do EZLN, mas ele é uma realidade. Se queremos solucionar (o conflito) temos de negociar com eles (zapatistas)", afirmou Camacho, empossado ontem.
Os zapatistas impuseram como condições para as negociações o seu reconhecimento pelo governo como força beligerante. Também exigem um cessar-fogo bilateral, a retirada do Exército da zona de conflito, o fim dos bombardeios e a formação de uma Comissão Nacional de Intermediação.
Deixando a linha oficial seguida até agora, Camacho negou a participação de estrangeiros na rebelião iniciada no dia de Ano Novo no Estado sulino de Chiapas. Nesse dia, rebeldes zapatistas ocuparam cidades, acusado o governo de práticas "genocidas" e exigindo a entrega de terras. Reprimidos pelo Exército, os rebeldes, em sua maioria descendentes dos maias, retiraram-se para as montanhas.
Ontem, líderes políticos mexicanos aprovaram as alterações feitas segunda-feira no governo federal. Os três candidatos à Presidência disseram que elas vão facilitar uma solução negociada para o conflito. Além de Camacho, Salinas nomeou anteontem o ex-ministro da Justiça Jorge Carpizo para a pasta do Interior, no lugar de Patrocinio González, um ex-governador de Chiapas.
Analistas políticos dizem que as mudanças representam uma tentativa do governo de buscar uma solução rápida e legal para a rebelião. Na repressão aos zapatistas, o Exército mexicano teria cometido violações dos direitos humanos, segundo testemunhos.
A Anistia Internacional informou que está "preocupada com os relatórios de violações de direitos humanos, entre elas a possível execução extrajudicial de cinco rebeldes por membros do Exército em Ocosingo a 4 de janeiro".
A organização de defesa dos direitos humanos também expressou preocupação com possíveis execução e tortura de prisioneiros por parte dos rebeldes. Anteontem, os zapatistas disseram que haviam libertado 80 reféns.

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