São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Ieltsin pede paz ao novo Parlamento russo

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, pediu ontem um acordo entre as "forças políticas responsáveis" para "eliminar a violência no país". Ieltsin discursava na inauguração do Conselho da Federação, a câmara alta do novo Parlamento. O antigo Legislativo foi dissolvido pelo presidente em setembro, em conflitos que deixaram pelo menos 140 mortos.
A câmara baixa do Parlamento, chamada Duma em russo, também teve sua sessão inaugural ontem. Os trabalhos foram marcados por confusão, discursos de deputados interrompidos à força e sucessivas votações.
Vladimir Jirinovski, líder da oposição ultranacionalista, pediu à polícia que ficasse em alerta, pronta para intervir nas disputas entre os parlamentares.
O primeiro-ministro, Viktor Tchernomirdin, discursou na cerimônia de abertura da Duma e sugeriu aos 430 deputados presentes (há 450 cadeiras) que colaborem com os esforços do "governo para sair da crise econômica". Ele disse que o Kremlin não pensa em implementar "medidas de choque" na economia.
Em seu discurso na abertura do Conselho da Federação, Ieltsin pediu aos 70 parlamentares presentes "cooperação" e que "esqueçam o vocabulário revolucionário e maximalista". O presidente teme o confronto com a oposição, formada pelo Partido Liberal Democrático, de Jirinovski, o Partido Comunista e o Partido Agrário. Juntos, eles controlam cerca de um terço da Duma.
Na câmara baixa, o partido de Jirinovski tem 64 cadeiras e o ieltsinista "Opção da Rússia", 58. São os 154 deputados independentes vão definir a tendência do Parlamento, que deve ser de resistência à maioria das iniciativas do governo Ieltsin.
Mas Ieltsin esvaziou os poderes do novo Parlamento, antecipando a possibilidade de conflito. A 12 de dezembro, a Rússia elegeu novos deputados e aprovou uma Constituição presidencialista, que concentra poderes no Executivo. No novo Parlamento enfraquecido, o Conselho da Federação corresponde a um Senado com mais poderes do que a câmara baixa.
Ieltsin adotou outras medidas simbólicas para mostrar a perda de poderes do Parlamento. Cada uma das câmaras se instalou num prédio diferente no centro de Moscou, sem a pompa do Kremlin ou a imponência da "Casa Branca", edifício que abrigava o antigo Congresso. Ao contrário das tradições russas, as cerimônias de inauguração não foram transmitidas ao vivo pela TV.
Hoje não haverá reunião da Duma, com o dia dedicado às negociações para se formar bancadas parlamentares. Depois de oito votações, chegou-se à única decisão de ontem: o número mínimo para se formar uma bancada é de 35 deputados, o que garante ao grupo certos privilégios, como o direito de intervir em todos os debates parlamentares.
Mas durante a discussão, o presidente da sessão inaugural, Georgi Lukava, 69, o deputado mais velho, perdeu controle dos trabalhos.

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