São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Winona Ryder filma dúvidas da juventude

JONATHAN BERNSTEIN
DA "SPIN"

"Reality Bites" (algo como "a realidade morde", ainda sem título em português ou data para estrear no Brasil), um filme sobre as agitadas pessoas de vinte e poucos anos de idade, dirigido e com a atuação de Ben Stiller, dá um temporário apoio para a sobrevivência dos musicais. Quando Winona Ryder e Janeane Garofalo parodiam um transe descontrolado, a trilha sonora usada é "Tempted" de Squeeze e "My Sharona" de Knack.
Fãs do new wave, telemaníacos dos anos 70 e "cópias" de anúncios de TV formam a capa de referências que protege os personagens de "Reality Bites" –quatro recém-formados na faculdade– da dura realidade do ambiente pós-universitário. Para a idealista, mas infeliz, Lelaina Pierce (Ryder) e o trio do qual ela se torna refúgio –a promíscua Vickie (Garofalo), o inseguro niilista Troy (Ethan Hawke) e o lacônico Sammy (Steve Zahn)– famílias desestruturadas, testes de Aids e o fantasma do aluguel são os Vietnãs que eles têm de enfrentar.
A vida de Lelaina é interrompida por uma trombada de carro com Michael Grates (Stiller), um executivo de TV. A admiração crescente de Grates por Lelaina e o lento progresso dos amigos dela provocam a ira de Troy, que tenta aliviar a dor de seu amor não correspondido por ela, com uma série de casos desesperados.
No colo de seu namorado, Dave Pirner (vocalista do Soul Asylum), a principal atração de "Reality Bites" diz que escolheu fazê-lo depois de atuar em uma série de filmes fantásticos porque este é, de um modo geral, apenas uma leve história de amor.
Os últimos três filmes que ela fez foram histórias de época, dois dos quais situados no século passado –"Drácula" e "A Época da Inocência" (veja texto ao lado). "Queria fazer algo sobre pessoas da minha idade, crescendo na sociedade atual. Parte disso aconteceu porque muitos jovens me perguntavam por que eu não fazia um filme sobre eles", diz Ryder.
"Tenho sorte de não estar numa situação onde devo lutar por grana, mas tenho de lutar de muitas outras formas", afirma Ryder. E acrescenta: "Tenho uma crise de identidade todos os dias".
"Toda a vida tenho sido o que me disseram que eu deveria ser. Desde os 13 anos sou Winona Ryder. Há uma frase no roteiro onde digo 'Sempre pensei que seria algo aos 23', e o personagem representado por Ethan Hawke diz: 'A única coisa que você precisa ser é você mesma'. E eu digo 'Não sei mais quem sou'. Na verdade tive esse tipo de diálogo com amigos", diz ela. Se Ryder teve uma oportunidade de crescer, Ethan Hawke teve a chance de checar seu brilho.
"Quando recebi o roteiro disse: 'não vejo porque fazer uma filme sobre um grupo de garotos brancos que se queixam", contou Hawke. "Eles não têm do que reclamar além da própria mediocridade", disse o ator. Ryder acrescenta; "Meu grande medo do filme é que vou parecer uma garota branca, classe média...". E ela continua gesticulando antes de pedir: "Espero que não seja assim. Mas se for, aproveito esta matéria para pedir desculpas".

Tradução de LISE ARON

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