São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Matilde Mastrangi quer ser atriz séria

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça: A Revolta dos Anjos
Autor: Anatole France
Elenco: Matilde Mastrangi, Washington Lasmar e Oswaldo Raimo
Direção: Christina Trevisan
Estréia: hoje, às 21h
Onde: A Hebraica, sala Arthur Rubinstein (rua Hungria, 1.000, zona sul de São Paulo, tel. 011/816-6463, ramal 133)
Ingressos: CR$ 1.800,00 (quintas, sextas e domingos); CR$ 2.000,00 (sábados); vendas por telefone (011/816-0829)

Depois de três anos longe do teatro, a rainha da pornochanchada está de volta. Rainha da pornochanchada, vírgula. Com "A Revolta dos Anjos", peça de Anatole France que estréia hoje na sala Arthur Rubinstein, a paulistana Matilde Mastrangi, 40, espera enterrar a imagem de "sex symbol" que a persegue desde a década de 70. "Sex symbol", fique claro, é expressão da própria atriz –que, pela primeira vez, não vai tirar a roupa no palco. Os bigodudos da platéia terão que se contentar com uma ou outra cena em que desfila de lingerie.
"Quero que a peça de Anatole funcione como um divisor de águas. Acabou o tempo da Matilde hipersensual. Chegou a hora da Matilde atriz. Já não tenho mais a cabeça e o corpo de outras épocas. Amadureci. Sou mãe." Isabella é o nome da filha, primeira e única, que está completando três anos hoje. "Dei o nome porque gosto da Isabella Rosselini."
Para garantir a guinada na carreira, Matilde se cercou de "alta cultura". "A Revolta dos Anjos" é uma adaptação do romance homônimo que o francês Jacques Anatole François Thibault, o Anatole France (1844-1924), prêmio Nobel de literatura, escreveu em 1914. A peça descreve uma rebelião de quinhentos mil anjos no Paraíso. Mistura humor, mistério, crítica social e misticismo.
São onze atores em cena, todos do grupo Os Pimentas Atônitos, que tem a direção da gaúcha Christina Trevisan, 38. Matilde encabeça o elenco, interpretando dois papéis: o da aristocrata Gilberta des Aubels, mulher de um ministro, e o de Zita, ex-arcanjo.
"Não conhecia Anatole France", confessa a atriz. "Nem sabia que existia. Tenho pouco estudo." O grupo ensaia a peça desde maio. "Enfrentei dificuldades terríveis", conta Matilde. "A Zita, por exemplo, só conjuga os verbos na segunda pessoa. É complicado. Para piorar, há monólogos com palavras bem esquisitas."
Natural da Móoca, bairro italiano de São Paulo, Matilde lançou-se no "showbiz" em 1971. Tinha 18 anos. "Trabalhava com Silvio Santos, que fazia um programa na Globo. Era secretária de palco –ou 'silvete', como diziam. Entregava fichas, conduzia calouros, mostrava prêmios." A atriz lembra que, na estréia, usou um vestido longo, azul claro, da Vigotex. "Não havia decotes ou ousadias do gênero. Naquela época, o Silvio só contratava moças de família."
O sucesso de público veio mais tarde, a partir de 1973, quando descobriu a pornochanchada. Fez 45 filmes em nove anos. Entre os títulos, há pérolas como "O Poderoso Machão", "Pecado Horizontal", "A Noite das Taras", "Cangaceiras Eróticas" e "Cada Um Dá o que Tem".
Em 1984, estreou no teatro. Protagonizava a comédia erótica "O Grande Motel". (Armando Antenore)

Texto Anterior: Mostra contrasta dois artistas figurativos
Próximo Texto: ULM inicia hoje Festival de Verão 94
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.