São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 1994
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Governo vai mudar pagamento de loterias

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo prepara uma medida que modificará completamente o sistema de pagamento de loterias no Brasil. Os ganhadores dos prêmios principais não receberão mais a bolada de dinheiro de uma só vez. O pagamento será feito mensalmente, numa espécie de mesada que pode durar toda a vida do ganhador.
A proposta de mudança consta de um estudo reservado preparado pela CEF (Caixa Econômica Federal). A idéia conta com a simpatia de Itamar Franco, que já revelou a auxiliares a intenção de adotá-la. O objetivo é desestimular a utilização das loterias como mecanismo de "lavagem de dinheiro sujo".
Pelo raciocínio do governo, o parcelamento do prêmio tornaria a "lavagem" desinteressante. O estudo da CEF foi determinado pelo próprio Itamar, a partir da constatação de que o deputado João Alves "lavou" nas loterias o dinheiro que obteve de forma ilícita ao tempo em que era o homem forte da Comissão de Orçamento. Também o economista José Carlos Alves dos Santos se valeu, em menor proporção, dos prêmios da loteria para "esquentar" propinas.
O documento da CEF reforça a tese da instrumentalização das loterias por pessoas interessadas em "legalizar" dinheiro sem origem declarada. A idéia do pagamento parcelado dos prêmios foi inspirada, segundo técnicos, na experiência dos Estados Unidos.
"Contas fantasmas"
Uma segunda providência deve ser adotada para dificultar a abertura de "contas fantasmas". Planeja-se baixar uma regra segundo a qual todos os correntistas do país tenham um único número de conta, mesmo os que operam com mais de um banco. A diferença entre a conta de um banco e de outro seria estabelecida por um dígito, acrescido ao final do número da conta.
No caso das loterias, o governo precisará esclarecer algumas questões básicas antes de anunciar a nova sistemática de pagamentos parcelados dos prêmios. Será preciso definir, por exemplo, em poder de quem ficará a montanha de recursos até que o último centavo seja repassado ao seu ganhador.

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