São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 1994
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Caderneta e lojas disputam cruzeiros

ARTHUR PEREIRA FILHO; SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Carros, telefone e vestuário estão disputando o dinheiro do investidor nesse início de ano. Na outra ponta, estão os investimentos financeiros como as caderneta de poupança, prometendo grande rendimento. No primeiro round, todos registraram ganhos. O saldo da poupança aumentou 3,45% na primeira semana de 94. Os preços das linhas telefônicas devem subir 30% reais este mês, devido à demanda ascendente. "As vendas do comércio cresceram de 10% a 12% nos dez primeiros dias de janeiro", diz Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
O fato mostra que há uma grande quantidade de dinheiro circulando na economia. O próprio próprio diretor de política monetária do Banco Central, Francisco Pinto, admite que cerca de US$ 1,8 bilhão entraram em circulação nas últimas três semanas. Nesse período, o Banco Central não conseguiu vender seus títulos e, com eles, tirar dinheiro do mercado.
No comércio, o aumento das vendas, afirma Szajman, é fruto de ofertas e promoções. "Precisamos ter atrativos, caso contrário o consumidor vai para a poupança." Segundo ele, seu setor dificilmente vencerá a disputa com a caderneta nas próximas semanas.
Os dados da Associação Comercial de São Paulo são otimistas. As consultas ao telecheque, que medem o movimento das compras com pagamento à vista, cresceram 15,3% do dia 1.º a 12 de janeiro em comparação com igual período do ano passado. "Esse crescimento é consequência das promoções do comércio e do aumento da renda média da população", diz o economista Marcel Solimeo, da associação.
As concessionárias de automóvel não podem se queixar: suas promoções estão atraindo os consumidores e reduzindo os estoques. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores), foram vendidas 13.257 unidades nos dez primeiros dias do ano, 72,7% acima do resultado obtido no mesmo período de 93 (7.673). Segundo Waldemar Verdi, presidente em exercício da entidade, o bom resultado é devido à "queima de estoques".
Eduardo Sampaio, diretor da Porto Fino, concessionária Fiat, diz que as vendas dos dez primeiros dias do ano foram melhores que as realizadas no mesmo período de dezembro. "Esse volume de negócios foi uma surpresa, Janeiro é tradicionalmente um mês fraco.". Para Naul Ozi, diretor de marketing da Caraigá, revenda da Volks, a procura aumentou devido às promoções e por causa do clima de incerteza na economia. "Tem muita gente comprando carros só para deixar na garagem".
O mercado paralelo de telefones mostra como os consumidores estão divididos entre o desejo de "ganhar" 50% na poupança e comprar o bem, apostando em sua valorização. Edmon Rubies, diretor da Bolsa de Telefones, diz que muita gente está vendendo linhas para investir na caderneta. Do outro lado, aumentou a procura por novas linhas.
Carlos Alberto Dias, do Balcão de Telefones, lembra que enquanto a Ufir variou 14,5% entre 30 de dezembro passado e 12 de janeiro, os preços das linhas na capital subiram 18,6%. "É um bom investimento e as pessoas estão aproveitando".
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sobre quem perde com a alta dos juros na pág. 3

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