São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Crescimento ameaça descaracterizar PSDB

CLAUDIA TREVISAN

O PSDB conseguiu nas últimas semanas a adesão de um grande número de filiados que têm um traço comum: a diversidade ideológica. O crescimento aumenta as chances eleitorais do partido, mas traz a ameaça de descaracterização que já atingiu o PMDB e, ironicamente, está na origem da própria criação do PSDB.
Os novos tucanos vieram de partidos que guardam a mesma semelhança programática existente entre o ministro do Trabalho, Walter Barelli, e o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Albano Franco –as mais ilustres das recentes conquistas do partido. PPR, PST, PDC, PTB, PST, PPR, PMDB e PT estão entre os partidos que perderam quadros para os tucanos nos últimos dias.
Interesse eleitoral
"Temo que aconteça com o PSDB a mesma descaracterização que ocorreu com o PMDB e nos levou a sair do partido", diz o deputado Sigmaringa Seixas (PSDB-DF), virtual candidato ao governo do Distrito Federal. Seixas evita citar nomes, mas afirma que "muitos" dos novos tucanos foram para o partido mais por "interesse eleitoral" do que por "opção programática".
O deputado Tuga Angerami (PSDB-SP) é mais explícito e critica abertamente a filiação do senador Albano Franco, que já foi do PRN e colaborou estreitamente com o ex-presidente Fernando Collor. "No ano passado, o senador já havia manifestado o interesse de ingressar no PSDB e as bancadas do partido na Câmara e no Senado manifestaram-se contra", afirma Angerami. Albano não quer alimentar a polêmica. Diz apenas que foi convidado a ingressar no partido.
Os cientistas políticos se dividem na avaliação do crescimento do PSDB. Bolívar Lamounier, que é simpático aos tucanos, não vê risco de desagregação do partido. "Os pontos de contato entre pessoas de esquerda e de direita dentro do PSDB são muito grandes", observa. "O importante é que haja preocupação com o combate à inflação, a reforma do Estado, a competitividade da economia e a implantação de uma política social eficaz".
Francisco de Oliveira, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), diz que o PSDB sofre o "processo clássico de inchaço", provocado por políticos que procuram partidos em evidência. "O PMDB está mostrando que os 'partidos-ônibus' são uma ficção momentânea", analisa Oliveira.

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