São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Culpa e renúncia fundamentam ética

DA REPORTAGEM LOCAL

A diferença entre o "bem" e o "mal" é uma das principais questões da filosofia. Desde os filósofos gregos, esse assunto é discutido sob o nome "ética". A psicologia traz uma nova abordagem ao tema: o que leva o homem a agir para o "bem" ou para o "mal"?.
A tese "Freud e o campo da ética - Sobre a gênese o o desenvolvimento da consciência moral", de Flávio Carvalho Ferraz, 30, busca na obra de Sigmund Freud as teorias que o pai da psicanálise usou para responder essa questão.
"Desde o início, a investigação psicanalítica procurou determinar quais os motivos que levariam o homem e a cultura a agir como agem", diz o psicanalista.
Para ele, os dois conceitos freudianos mais importantes sobre isso são "culpabilidade" e "renúncia" –ressaltados em obras anteriores por autores como Jean Laplanche e Jacques Lacan.
A culpa vem daquilo que os psicanalistas denominam superego –a "consciência moral" ou "a parte do aparelho mental responsável pela autocensura e pela moralidade". A renúncia faz parte da própria maturação psiquica do indivíduo, que em termos psicanalíticos se chama de passagem do princípio do prazer ao princípio da realidade.
Essa passagem é exemplificada com as crianças: "São completamente egoístas e suas necessidades são sentidas de forma muito intensa, razão pela qual elas lutam insistentemente para satisfazê-las."
Segundo o autor –citando Freud–, apenas o despertar da moralidade pode "sufocar" esse egoísmo e mantê-lo fora de uso –o que não quer dizer que seja destruído. Assim, "a atitude moral no ser humano pressupõe uma subordinação dos interesses naturais de ordem pulsional aos interesses comuns, expressos pelas normas culturais".
Freud é dito pessimista em relação à civilização por causa dessa visão sobre a necessidade de renunciar ao princípio do prazer para poder conviver em sociedade.
Em suas palavras, que servem de epígrafe para a tese: "O problema que temos pela frente é saber como livrar-se do maior estorvo à civilização –isto é, a inclinação, constitutiva dos seres humanos, para a agressividade mútua" (do texto "O mal-estar na civilização").
Além disso, Freud subverte completamente o raciocínio peculiar ao senso comum no que concerne à relação de causa e consequência na conexão entre o crime e o sentimento de culpa, afirma Ferraz. "As ações criminosas são praticadas principalmente por serem proibidas e por sua execução acarretar, para seu autor, um alívio mental."
Ou seja, o sentimento de culpa não é decorrência da ação criminosa, mas, ao contrário, é sua causa.

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