São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Deságio do dólar ressuscita 'operação iô-iô'

NILTON HORITA

O iô-iô está de volta. Não é o brinquedo, mas uma operação que o mercado financeiro rejuvenesceu para ganhar um bom dinheiro com a queda do preço do dólar paralelo frente à cotação do câmbio oficial. O volume de iô-iô superou os US$ 50 milhões na semana passada, o que rendeu cerca de US$ 2 milhões de lucro.
Com o deságio médio de 4%, houve uma corrida de bancos e investidores para aproveitar este diferencial. O negócio todo começou a existir quando o cidadão comum decidiu vender as notas de dólares que estavam guardadas em casa para aplicar cruzeiros reais na poupança.
Com mais vendedores na praça, o dólar paralelo ficou mais barato que o dólar comercial. Enquanto o cidadão comum e outros mais capitalizados corriam na direção da poupança, os bancos, empresas e investidores iniciaram o iô-iô, uma transação de retorno em minutos.
A estrutura é simples. Compram-se dólares mais baratos no mercado de taxas flutuantes e o montante é remetido ao exterior. Na mesma hora, este montante de dinheiro retorna ao Brasil pelo câmbio comercial.
É como se o dólar fizesse uma viagem de ida e volta de metrô da avenida Paulista à sede da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). A diferença é que para completar o caminho, o dono do dinheiro ganhou o deságio de 4%.
A rentabilidade é mais que o dobro da valorização diária de qualquer fundo de investimento oferecido pelo sistema bancário.
O dólar que saiu pelo flutuante retorna ao Brasil pelo câmbio comercial através de modalidades conhecidas. A principal delas acaba sendo a aplicação em Bolsas de Valores e investimento em empresas.
O volume médio da Bovespa foi de US$ 195 milhões em 1993. Na quinta-feira passada, encostou nos US$ 300 milhões. A média diária na semana ultrapassou os US$ 200 milhões. Parte do ingresso foi representado pelo iô-iô.
Apenas na semana passada, o Indice Bovespa (que reúne as ações mais negociadas na Bolsa paulista) registrou valorização de 15,67%. O I-Senn, do Rio de Janeiro, teve valorização ainda maior, de 21,55%.
A maior parte dos recursos, porém, volta ao país como investimento nas companhias. Para se ter uma idéia, na última vez que o iô-iô esteve em moda, no primeiro trimestre de 1992, quando também ocorreu situação de deságio, o volume destas operações chegou a aproximadamente US$ 1 bilhão.
O Banco Central registrou em 1992 o investimento direto de capital externo nas empresas de US$ 1,342 bilhão. Este valor representa mais que a soma dos dólares aplicados nas companhias em 1993 e 1991.
O resultado disso é que as mesas de câmbio dos bancos não pararam um minuto na semana passada. Um deles chegou a comprar, diariamente, US$ 200 mil no câmbio flutuante para ganhar o lucro permitido pelo deságio.

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