São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Da Reportagem Local

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem inventou esta história de São Paulo ser o túmulo do samba foi o poeta e compositor Vinicius de Moraes, que se orgulhava de ter nascido e vivido no Rio de Janeiro.
Uma confusão comum quando se entra nesta seção da polêmica predileta da maioria dos brasileiros é entre samba e Carnaval. São coisas diferentes, embora íntimas. Neste século, o samba se tornou o principal acompanhamento do Carnaval no Sul do país –lembre-se que no Nordeste até hoje o frevo e os ritmos da Bahia dominam. Entretanto, há uma tradição de sambas compostos fora do Carnaval e de outros ritmos (em especial as marchas) que fazem muito sucesso nos fevereiros.
Pois bem, o Carnaval no Rio de Janeiro ainda é o mais famoso por causa dos desfiles das escolas de samba, luxuosas, caríssimas e repletas de ricos e famosos. São Paulo bem que se esforça, já até construiu um sambódromo e tenta melhorar a cada ano o desfile das suas escolas. Mas é inegável que os cariocas saíram na frente. Tanto que inventaram os desfiles.
No samba também os cariocas levam vantagem –o ritmo tal qual se tornou popular nasceu lá, também. Faça-se um seleção dos melhores compositores de samba de todos os tempos, e provavelmente só Adoniran Barbosa, e talvez Paulo Vanzolini, são daqui.
O que não quer dizer que São Paulo não tenha samba. Só Adoniran e Vanzolini já valem um capítulo à parte na história da MPB. Outro argumento: não há nada que prove que o samba é mais popular no Rio do que em São Paulo. Prova isso o fato de que no atual "boom" do samba, boa parte dos grupos são paulistas. Em qualquer das duas cidades –provavelmente em qualquer cidade do Brasil–, sempre que houver um botequim, um violão e uma caixinha de fósforos, haverá bom samba.
E há um trunfo extra para os paulistas: Vadico, o mais importante parceiro de Noel Rosa, nasceu no Brás, era descendente de imigrantes italianos e foi enterrado na cidade, apesar de ter passado boa parte da vida no Rio. Ele é autor de melodias famosas como "Conversa de Botequim", "Pra que mentir?", "Feitiço de Vila", "Feitio de Oração" e "Tarzã, Filho do Alfaiate". Musicadas por Noel, as letras do paulista Vadico passaram a falar da vila Isabel, da Penha e de Copacabana. Uma prova de que paulistas e cariocas podem se entender quando o assunto é samba.

Texto Anterior: EU ACHO QUE NÃO
Próximo Texto: Ensaios em quadra de escola têm público teen garantido
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.