São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Rosto se revela na face oposta

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A época digital enterrou o mistério da face oposta dos discos de vinil. O CD é um organizador monista. Chapeia em PVC e alumínio as velhas oposições. Tudo –cara e coroa, explícito e oculto– vai inapelavelmente para um lado só. Isso é fatal para Prince. Ora, o lado B de um disco sempre foi o oculto, a face escura, dimensão de baixo.
Nenhum outro músico do pop explorou tão bem quanto ele a dicotomia dos dois lados do disco. O "Black Album", lançado clandestinamente em 1987, só teve aura porque era de vinil negro e com face dupla.
Prince abordou mais essa polarização nos "singles". Conforme observa Alan Leeds, autor do texto do livreto do disco e manager do músico entre 1982 e 1992, as faixas de lado B dos compactos são as mais pessoais. Por pudor, Prince não incluiu 18 lados B de velhos "singles" em seus LPS.
O outro lado do single de "Purple Rain" era a canção "God", impressionante gospel atonal e carola. Outra canção embargada, "I Love You In Me", foi lado B em 1989 e 1991, respectivamente de "The Arms of Orion" e "Insatiable". Fazia contraponto doce a funks diabólicos.
Como esboços em pintura, essas faixas revelam o inconsciente e o processo de criação do músico. Para entendê-los, é preciso imaginar o lado A. (LAG)

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