São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Telejornais noturnos erram público-alvo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Emprestando seu nome aos jornais noturnos, as redes de televisão sugerem que o final da noite será dedicado a mais editorial e menos de ação. Mas a espectativa não se confirma. Os telejornais noturnos amargam a falta de uma identidade clara. Encerram as notícias do dia, repetem as reportagens mais importantes transmitidas nos jornais anteriores, divulgam as manchetes do dia seguinte, repetem as cotações do dólar, os índices econômicos diversos, aconselham investimentos. Comentam um ou outro evento cultural de qualidade. Mas desperdiçam a chance de produzir um jornal analítico e reflexivo ao gosto do público que liga a televisão na madrugada. O caso do "Jornal do SBT" é o mais gritante.
Ensanduichando o "Jô Onze e Meia", o "Jornal do SBT, Ultima Edição" vai e volta mas não consegue emplacar. Depois do mundo cão do "Aqui, Agora" e da seriedade implacável do "TJ Brasil", o "Jornal do SBT" aparentemente pretende encerrar o noticiário do período com um jornalismo leve. Mas os assuntos do dia vêm recheados de longas reportagens de variedades de interesse no mínimo duvidoso.
O texto apela para trocadilhos óbvios na tentativa de alinhavar a pauta, mas só consegue expor a falta de critérios de seleção de notícias. "O JSBT está no ar com os pés bem firmes no chão" anuncia a apresentadora, introduzindo uma matéria extemporanea sobre a leveza de botas femininas inspiradas na moda punk para este inverno, em pleno início do mês de praia! O tom crítico quase alternativo de reportagens sobre Franz Zappa, ou sobre o lançamento em vídeo de um dos primeiros filmes de Coppola destoa do resto e salienta a falta de unidade do programa.
Nada contra a promoção de lojas e modas. Mas mesmo uma revista dedicada à prestação de serviços nessa área necessita um partido editorial claro. Se algumas reportagens estão fora de hora, outras de pobres e inusitadas, são hilárias. Como a demonstração das curiosidades eletrônicas vindas diretamente de Miami para uma loja na capital, onde você pode encontrar um porta gravatas elétrico, que gira para facilitar a sua escolha, aparelhos de telefone que disfarçam a voz do dono, ou eliminadores de ronco consumidos por esposas incomodadas com o sono ruidoso de seus maridos.
Difícil imaginar quem é o telespectador alvo desse jornal. Uma pauta cheia de linguiça desperdiça a apresentação firme e expressiva a la Lilian Wite Fibe da substituta do casal titular em férias. O jornal do SBT é um desses programas que justificam a fama tediosa da televisão. Misto de revista de domingo com a falta de assunto da CNN em tempos de paz internacional, o "Jornal do SBT" frusta o telespectador que liga a televisão antes de dormir em busca de notícias e comentários originais.

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