São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Turma do morro fica do lado de fora

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

A mais tradicional escola de samba do mundo provou que sabe receber muito bem. Foi uma noite de gala na favela da Mangueira (zona norte do Rio), para onde convergiram intelectuais, artistas e turistas. A turma do morro mesmo ficou do lado de fora e só vai ver Gil, Gal, Caetano e Bethânia no desfile do Sambódromo.
Numa grande mesa em frente ao palco, reuniram-se os convidados vips das estrelas da festa. "Só a Mangueira para reunir toda essa gente", exultava o vice-presidente Ivo Meireles. Ao lado dele, a miscelânea: Dona Zica, Hector Babenco, Alcione, Bruna Lombardi, Gabriel Villela, Paulo Henrique Cardoso (filho de FHC) e Ana Lúcia Magalhães Pinto.
Nos "camarotes" (sem divisórias entre si), outra constelação que ia de Milton Nascimento a Cláudia Abreu. Valeu tudo, das caras e ombros de Bruna ao discurso vaiado do presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio, Paulo de Almeida.
As 22h18, quando o quarteto entrou no palco, 2.000 pessoas espremiam-se na platéia. Roberto Santos, responsável pelo primeiro show dos quatro em 64 no teatro Vila Velha, suspirava: "A amizade deles é indestrutível".
"Genial", "genial", foi o comentário geral depois que os baianos conseguiram deixar o palco. Abarrotados de buquês de rosas e flâmulas oferecidas pela escola aos "bárbaros mais doces que a Mangueira tem", tomaram outro suador até o mini-camarim. "Isso é a força da raça brasileira, somos fragmentos dela", definiu Gil, em meio ao ensurdecedor escarcéu da bateria. "Foi uma maravilha", completou Caetano.
Enquanto os carros voltavam para a zona sul, no Buraco Quente, a principal rua de entrada da favela, ao lado da quadra, o movimento de entra e sai continuou frenético. A boca do traficante Ricardo Coração de Leão funcionou a todo vapor. A polícia não deu as caras. Mas isso é só na Mangueira.

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