São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Parlamento italiano é dissolvido

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Itália, Oscar Luigi Scalfaro, dissolveu ontem o Parlamento e marcou novas eleições para o dia 27 de março. Scalfaro rejeitou a renúncia do primeiro-ministro Carlo Azeglio Ciampi e pediu que ele ficasse até as eleições, as primeiras depois dos dois anos mais turbulentos da história da Itália desde a Segunda Guerra.
"Os eleitores têm a palavra agora", afirmou Scalfaro em carta às duas casas do Parlamento, devastadas por investigações de corrupção, suborno e conexões com a Máfia. Segundo ele, o Parlamento, eleito em 1992, quando o escândalo de "Tangentopoli" ("Subornópolis") estourava, já não era representativo.
Ciampi, 73, primeiro premiê não-político da Itália (era presidente do banco central italiano), apresentou sua renúncia na última quinta-feira, depois de um debate parlamentar em que foram expostas profundas dissensões sobre a data das eleições. Sua coalizão conduziu a Itália à reforma do sistema eleitoral através de um campo minado de tensão e conflitos.
Acredita-se que o novo sistema eleitoral selará a queda da hegemonia da Democracia Cristã, que dominou a Itália a partir da Segunda Guerra Mundial. Mais de um terço dos 945 membros das duas casas do Parlamento italiano já foi investigado, incluindo quatro ex-primeiros-ministros.
Scalfaro afirmou que um referendo sobre a reforma eleitoral, apoiada por 80% dos eleitores, em abril passado e o resultado das eleições para prefeito no final do ano passado tornaram inevitável a dissolução do Parlamento. As eleições municipais foram um triunfo para o Partido Democrático da Esquerda (PDS), ex-comunista, provável líder nas eleições de março, e também para a Liga Norte (regionalista) e o Movimento Social Italiano (neofascista).
"O resultado das eleições mostra um abismo entre a representação no Parlamento e a vontade popular", disse Scalfaro. O novo sistema de maioria, que substitui a representação proporcional, deve permitir uma escolha clara entre blocos políticos distintos, em vez da vasta gama de partidos hoje representados no Parlamento.
Dispondo de menos de dez semanas para se preparar, as forças que emergem das ruínas da velha ordem italiana estão lutando para apresentar pactos que tenham credibilidade para seus eleitores. Somente a esquerda liderada por Achille Ochetto (PDS) conseguiu até agora lançar as bases para um pacto de seis grupos. O líder de centro Mario Segni, articulador da reforma eleitoral, lançou o programa de seu novo "Pacto para a Itália" anteontem, e espera atrair políticos "limpos" dos velhos partidos e da Liga Norte.
A data de 27 de março mereceu protestos da comunidade judaica, que celebra neste dia a sua Páscoa. Isso pode impedir o voto de parte dos 30.000 judeus do país.

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