São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Manifestação em Paris dá novo fôlego à esquerda

FERNANDA SCALZO-
DE PARIS

Mais de um milhão de pessoas, segundo os organizadores, e 260 mil, segundo a polícia, desfilaram ontem pelas ruas de Paris em defesa da escola pública. Foi a maior manifestação que o primeiro-ministro francês, Edouard Balladur, teve que enfrentar desde que assumiu o governo há nove meses. "Não mexa com a minha escola", "liberdade + igualdade - laicidade" foram os principais slogans da manifestação que saiu da praça da República. A estátua de Marianne, símbolo da República, foi coberta de louros e a faixa "República pública" dominava a praça.
Organizada contra a revisão da lei Falloux, adotada pelo Senado em 14 de dezembro, a manifestação perdeu seu sentido original na última quinta-feira, quando o Conselho Constitucional declarou a revisão anticonstitucional. Entretanto, com trens e ônibus alugados por manifestantes de toda a França, o movimento não perdeu a força e Balladur teve que amargar esta primeira derrota.
A revisão da lei Falloux, proposta pelo ministro da Educação Nacional, François Bayrou, visava permitir que as municipalidades pudessem financiar as reformas das escolas privadas francesas. O ensino público, que passa por uma crise de falta de verbas, sobretudo para a ampliação de sua rede escolar superlotada e deteriorada, sentiu ainda mais ameaçado o seu pequeno orçamento.
A votação do Senado em dezembro, concluída sem debates pela maioria da direita, foi também a responsável pelo primeiro arranhão na convivência pacífica que vinham levando o presidente socialista, François Mitterrand, e seu primeiro-ministro de direita. Mitterrand se declarou "chocado" com a votação e disse que o governo deveria pensar antes de mais nada "na escola do povo".
Crise instaurada, Edouard Balladur afirmou na última sexta-feira que o governo não iria apresentar outro texto de revisão da lei ao Senado e convocou os dirigentes dos sindicatos de professores e das associações de pais da escola pública para iniciarem um debate para um plano do governo. Tarde demais, a manifestação, segundo uma pesquisa da revista "Globe Hebdo", contava com apoio de 60% da população.
O deputado Patrick Devedjian, do RPR, partido de Balladur, chegou a sugerir ontem que o ministro da Educação Nacional pedisse demissão. O ministro Bayrou conseguiu de fato o que parecia impossível: dar uma primeira vitória e um novo fôlego à esquerda francesa, que parecia condenada ao esquecimento desde abril. Ontem, o primeiro-secretário do Partido Socialista, Michel Rocard, e o secretário-geral do Partido Comunista Francês, Georges Marchais, desfilaram da praça da República à da Nação lado a lado, com sorrisos de vitória.

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