São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Pressão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Até uma semana atrás, a vida corria como sempre para Ricardo Fiuza. Foi então que seu colega pernambucano e pefelista, para não dizer consultor, Roberto Magalhães, anunciou que não faria o relatório sobre a corrupção do amigo. Ontem, em quase todas as televisões, o deputado era o próprio retrato da tensão e do desespero.
Tensão foi a palavra do dia, nos noticiários todos. No Jornal Nacional: "Dia tenso na CPI. Os parlamentares abandonam os gabinetes para escapar das pressões." No Jornal Bandeirantes: "Tensão na CPI. Vai chegando a hora de apresentar o relatório final." No Jornal da Record: "Tensão na reta final da CPI. Até os funcionários estão recebendo ameaças."
Ricardo Fiuza foi responsável por boa parte das pressões. Na avaliação da correspondente do TJ Brasil, "de todos, o mais nervoso é o ex-ministro Ricardo Fiuza". Não é de estranhar: "A situação do ex-ministro é cada vez mais difícil." Pode ser difícil, mas ele ainda conta com muitos amigos de antigamente, como o senador José Sarney, o pai da Roseana.
"O ex-presidente José Sarney patrocinou a reunião de Ricardo Fiuza com o relator Roberto Rollemberg", informou o correspondente da Bandeirantes. Fiuza, como já era sabido, conhece bem os meandros do Congresso Nacional, cujos pesos pesados seguem intocados. Foi a um dos caciques peemedebistas para chegar –por cima– ao novo relator indicado para sua corrupção.
Suas pressões não pararam aí. Segundo o Jornal Bandeirantes, "o deputado chamou o senador José Paulo Bisol de imbecil". Não foi o único. Se Fiuza foi o mais nervoso, Bisol foi o que mais recebeu pressão. Também caiu sobre ele, entre outros, o deputado pefelista José Lourenço, que "comprou a briga do amigo Eraldo Tinoco", segundo a Record.
Também caíram sobre José Paulo Bisol membros da própria Subcomissão de Patrimônio, que ele coordena. Também caiu sobre ele a Globo. O Jornal Nacional, no conhecido jogo duplo, conseguiu criticar as pressões sem dar o nome de Ricardo Fiuza e José Lourenço. E conseguiu criticar as pressões, ao mesmo tempo em que fazia pressão contra o maior alvo das pressões, Bisol.
José Paulo Bisol não está nem aí. Muito calmo, no Jornal da Record, avisou que "talvez interesse a alguns que se perturbe o ambiente da CPI".

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