São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Nova política regional

No atual ímpeto renovador que acomete parte do governo Itamar, um dos temas de maior relevância, que começa a ser estudado, é a questão da reestruturação dos fundos e organismos regionais –tipo Finor e Sudene (do nordeste), Finam e Sudam (da Amazônia) e Codesvaf (do Vale do São Francisco).
A estrutura atual é paternalista, burocratizada, ineficiente e sujeita a interferências políticas espúrias. Não funciona como geradora de riqueza e de empregos –a não ser como cabide de empregos.
A idéia básica é substitui-la por um novo modelo, que ajude a estimular o chamado ambiente econômico –de acordo com o figurino preconizado pelos modernos estudos de política regional. Ou seja, em vez de dar dinheiro a fundo perdido para empresas, analisar as características sociais e econômicas da região e investir em obras de infra-estrutura que atraiam capital de risco. A base dessa mudança são estudos do senador Beni Veras sobre a região.
O tiro de partida desse programa foi o seminário "Bases para um Pacto Político e Econômico", ocorrido dias atrás, que juntou pessoal da Seplan, da Fazenda, do BNDES, líderes políticos regionais –como o governador cearense Ciro Gomes, o deputado Roberto Freire e o senador Beni Veras– e empresários interessados na região. O seminário foi dirigido pelo ministro Fernando Henrique Cardoso e por Raul Jungmann (secretário geral do Ministério do Planejamento).
Durante o seminário foram identificadas diversas áreas com potencial econômico –como o cerrado baiano, o vale do Jaguaribe (Ceará), vale do Gurguéia (Piauí), vale do Açú (Rio Grande do Norte) e médio e baixo São Francisco.
Os investimentos em infra-estrutura demandariam US$ 1 bilhão –a serem financiados pelo BNDES. Pelos cálculos apresentados pelo banco, permitiriam uma renda anual de US$ 900 milhões, já no primeiro ano, e geração de 350 mil empregos diretos.
A idéia que se tem em mente é propor a troca: não acabar com os fundo sociais, mas substituí-los por formas economicamente mais eficientes e socialmente mais justas.
Agenda sobrecarregada
Seria conveniente que, depois desse porre de boas idéias, o governo se organizasse e definisse prioridades e cronogramas de implantação –a fim de não ser atropelado por excesso de prioridades.
Até quando?
Carlos Rayel coordenou as verbas de publicidade do governo Quércia. Entrou pobre e saiu rico. Criou fama de levar propinas para liberar verbas e por criar lista negra de veículos independentes, a quem mandava mensagens arrogantes –tipo "se quiser anúncio, tem que falar bem".
O nível de suspeita que recai sobre ele pode ser medido pelo bloqueio de todos seus bens, solicitado pelo Ministério Público estadual. Mesmo assim, com o processo parado na Justiça e podendo usufruir dos bens bloqueados, Rayel prepara-se para estrear na rede Manchete, como promotor de espetáculos esportivos patrocinados.
Ministro candidato
Com a admissão de que pretende ser candidato à presidência, o ministro Fernando Henrique prestaria grande serviço ao país se se desincompatibilizasse do cargo e permitisse ao presidente da República entregá-lo a um elemento técnico, não-político e suficientemente desprendido para quebrar lanças e enfrentar a impopularidade, em nome das reformas de que o país necessita.
A lógica de que é melhor ceder agora, para conquistar o governo mais adiante, e salvar o país depois, não cola. Só vale para o grupo vitorioso –não para o país, que necessita de reformas já.
Cesta básica
Durante a noite de autógrafos do deputado José Serra, Ruth Rocha, mulher do ministro Fernando Henrique, foi direta ao primeiro-amigo Sérgio Motta e questionou: "Que história é esta de distribuir cesta básica?" Referia-se ao acesso de populismo de seu marido, em comício no fim da semana passada. Motta não tinha nada a ver com isso.
Caciques tucanos, reunidos no coquetel, preferiram atribuir o episódio a uma descuido apoteótico de Fernando Henrique, quando oficialmente apresentado ao povo.

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