São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994 |
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José Carlos foi a peça defeituosa do esquema
FERNANDO RODRIGUES
Economista de talento limitado, José Carlos Alves dos Santos tem hoje 51 anos. Responde a seis processos penais. Nega ter culpa. É acusado pela políca de tráfico de drogas, porte de dólares falsos, manter casa de prostituição e assassinar a mulher, Ana Elizabeth. José Carlos ascendeu na carreira de funcionário público trabalhando em um local onde ninguém dava importância para o Orçamento Geral da União: o Senado. É que até 1988 os parlamentares podiam apenas analisar e votar o projeto de Orçamento do Executivo, sem fazer emendas. A partir de 1988 José Carlos começou a mudar de vida. Ingenuamente, a Constituição de 88 outorgou aos parlamentares o poder de modificar o Orçamento preparado pelo Executivo, mas não criou mecanismos eficazes de fiscalização. Como José Carlos já estava ali mesmo no Senado, foi muito conveniente aos parlamentares. Quando começou a tomar corpo a alcatéia em torno do Orçamento, era ele que estava disponível para orientar. Afinal, ele sabia fazer contas e entendia de emendas orçamentárias. Incluía emendas e recebia malas cheias de dólares. Ao todo, teria recebido cerca de US$ 3 milhões. A não ser por um único incidente em sua juventude, o filho único José Carlos era o que se chamava de bom moço na década de 50. Em maio de 1959, em companhia de amigos do bairro da Barroca, José Carlos resolveu ir para uma festa em Belo Horizonte para a qual não estavam convidados. Estarrecido com a agitação do grupo, o anfitrião Américo Júlio teve um infarto e morreu na hora. Resultado: José Carlos e seu grupo foram parar na delegacia e ganharam o apelido de transviados da Barroca nos jornais. Até que começasse a mexer no Orçamento da União, o único desvio conhecido de José Carlos era o episódio dos transviados. Era considerada uma pessoa séria em Brasília. Ana Elizabeth Na noite de 19 de novembro de 1992, José Carlos cometeu o seu erro fatal. Todos acreditaram em sua história, mas os detalhes foram desmoronando, um a um. O economista contou que ele e a mulher teriam sido vítimas de um assalto seguido de sequestro, ao saírem de um restaurante onde haviam jantado. Os ladrões teriam levado Ana Elizabeth e deixado José Carlos preso no porta-malas de seu Monza em uma estrada próxima de Braslia. A versão do sequestro era desprovida de verossimilhança. Os supostos sequestradores ligaram apenas uma vez. E foi tudo. O trajeto que José Carlos relatou ter percorrido equivalia 171,8 km. No odômetro de seu Monza, que diz ter zerado ao sair naquela noite, constavam apenas 106,6 km. O economista nunca explicou essa diferença numérica, mesmo depois de a polícia técnica ter confirmado o bom funcionamento do equipamento do carro. Em 28 de novembro do ano passado, mais de um ano depois, a Polícia Civil de Brasília acabou encontrando o corpo de Ana Elizabeth. Enterrado nas proximidades da capital federal, tinha o crânio perfurado. Segundo os assassinos confessos, Lindauro da Silva e Valdei José dos Santos, a mulher do economista foi morta a picaretadas a mando e na presença de José Carlos, que nega tudo. Lindauro é detetive paticular. Foi contratado por José Carlos para seguir uma de suas amantes, Crislene de Oliveira. Na noite que a polícia descobriu o corpo de Ana Elizabeth, o economista tentou se matar, cortando os pulsos. José Carlos não revela porque resolveu fazer suas denúncias. A sua tragédia pessoal dá pistas da possível razão. Apesar de já acusado da morte da mulher, foi preso por outro motivo: posse de dólares falsos encontrados em sua casa, no dia 8 de outubro. Diz ter sido torturado na cadeia. Antes da prisão, havia pedido ajuda ao deputado Ricardo Fiuza (PFL-PE) para justificar os dólares falsos. Não conseguiu. Abandonado pelos ex-companheiros, resolver falar. Fiuza foi um de seus alvos prediletos. Texto Anterior: José Carlos lamenta falta de mais provas Próximo Texto: João Alves já não consegue andar nas ruas Índice |
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