São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Senna vê dificuldades para acertar Williams

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL AO ESTORIL

O primeiro dia real de trabalho de Ayrton Senna na Williams serviu para o piloto concluir que a equipe não é o país das maravilhas. Senna viu coisas boas no carro nas 42 voltas que completou no circuito português do Estoril: o motor ("redondo, estável e confiável") e a aerodinâmica ("tem uma eficiência enorme"), por exemplo. Mas já avisou: a máquina que, há dois anos, ele mesmo definiu como "de outro planeta", hoje em dia é a maior das terráqueas. Sem suspensão ativa, o carro da Williams, nas palavras de Senna, "não tem nada a ver com aquilo que a gente andou vendo por aí, não".
Ayrton prevê muito trabalho, mais do que se imaginava. Apesar de marcar o melhor tempo do dia entre os seis pilotos de quatro equipes que fazem seus testes em Portugal, ele acha que o time campeão do mundo vai ter que se dedicar muito ao desenvolvimento da velha suspensão passiva.
O brasileiro dedicou o dia ontem a testar diversar modificações no modelo FW15C, "para sentir suas reações". Aprender é o verbo que Senna mais tem conjugado esta semana. "É um carro totalmente diferente de guiar", disse, em relação à McLaren, o último que dirigiu. "Ele não tem só qualidades, tem seus problemas também."
O principal, na suspensão. "Sem a ativa, ele pula mais, fica completamente instável se comparado a um eletrônico. Por essas e outras é mais difícil de guiar e lento também. A aerodinâmica desse carro foi desenvolvida para a suspensão ativa. Com a passiva vira um animal", definiu.
Senna teve como companheiro ontem o escocês David Coulthard, piloto de testes da equipe. Damon Hill não andou. Também não falou muito com o brasileiro. "Ele preferiu ouvir mais o que eu senti do carro, para não influenciar minhas opiniões", explicou Ayrton, que fica em Portugal até domingo. Hoje ele já anda com a nova versão do motor Renault, o RS6. O carro de 94, batizado de FW16, entra em pista no fim de fevereiro.
O FW15C é considerado pela equipe um laboratório. "Ele não vai ter uma performance excepcional", adianta o piloto. "Com suspensão passiva, ficaram evidentes algumas características desse carro que não eram conhecidas. As modificações serão feitas no modelo novo." As dúvidas quanto ao real potencial do FW15C, despido da eletrônica, tornaram-se claras quando foi perguntado a Senna o que mais lhe surpreendeu na máquina. Ele levou 17 segundos para começar a responder. Fez alguns elogios ao motor e ficou nisso.
A posição de dirigir, primeira reclamação feita por Senna já na terça-feira, foi parcialmente corrigida ontem. O volante, de diâmetro muito grande, deve ser trocado. "A tentação de acelerar é grande, mas eu tenho que ser cauteloso, só posso fazer isso quando me sentir seguro e confortável", falou Senna. A potência do motor Renault realmente assusta. "Chego ao final da reta aqui a 320 km/h. Com a McLaren não chegava a 300 km/h. A freada é mais forte, é preciso ter muito autocontrole para não me expor a acidentes", concluiu.

Os tempos de ontem: 1) Ayrton Senna (BRA/Williams), 1min13s30 (42 voltas); 2) Karl Wendlinger (AUT/Sauber), 1min14s48 (64); 3) Heinz-Harald Frentzen (ALE/Sauber), 1min14s79 (53); 4) David Coulthard (ESC/Williams), 1min15s30 (44); 5) Eric Bernard (FRA/Ligier), 1min15s99 (30); 6) Alessandro Zanardi (ITA/Lotus), 1min16s61 (45).

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