São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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DJ David Morales pede respeito à dance

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 15 anos atuando como um dos quatro top DJs e remixers do universo club (os outros são Tony Humphries, Franckie Knuckles e Little Louis Vega), o americano David Morales, 31, lançou o seu primeiro disco, "David Morales and the Bad Yard Club" em agosto de 93. O resultado foi inesperado. Em vez de um disco de house music, gênero no qual Morales é um dos maiores inovadores, veio um trabalho versátil e diversificado. Em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, Morales fala da dance music, do súbito estrelato dos DJs e na Europa, e de seu principal hit nas pistas brasileiras, "Gimme Luv". Revela também que "adoraria" vir tocar aqui.
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Folha - Por que tanto tempo para lançar um disco?
David Morales - Não sou cantor. Mas me ofereceram e eu resolvi aceitar. Quando eu era mais jovem, a música era mais eclética. Só agora é que a música ficou mais segregada. Queria fazer um disco com um pouco de tudo que gosto e com o qual já trabalhei. Já remixei para gente como Shabba Ranks, Technotronics... Quis dar essa variedade, para que o disco não soasse idêntico do começo ao fim.
Folha - Você disse um vez numa entrevista que a dance music perdeu o respeito por si mesma. Por que falou isso e por que acha que isso aconteceu?
Morales - Isto acontece mais nos EUA do que na Europa, onde a dance music é vista como um filho bastardo. Quem trabalha com dance não é respeitado. É só ouvir o rádio e ver que quase nada de dance está na programação. Quando eu comecei, não haviam rótulos para música, não havia techno, nem house. As pessoas iam ao clube para dançar e se divertir. Tudo era mais fácil, o DJ levava as pessoas para uma viagem e isso nãõ existe mais hoje.
Folha - Você sempre foi conhecido como DJ. Não ficou com medo das reações ao lançar um disco?
Morales - Não. Sabia que as pessoas iam esperar um disco de house, e muitas ficaram chocadas com o resultado. É preciso arriscar. Sinto que é minha obrigação ensinar aos jovens que existem outras coisas. Com isso vem a responsabilidade das pessoas em assumir se gostaram ou não do que foi feito.
Folha - "Give me Luv" é a única música que tem sua marca registrada e é o seu maior hit nos clubes de São Paulo. Como foi a gravação?
Morales - Quando comecei a gravar "Give me Luv", a música era diferente, uma mistura de raggamuffin com rhythm'n'blues. Quando resolvi fazer o mix, estava no clube Jackie 60 e encontrei uma drag queen que estava cantando. Foi ela quem me inspirou a remixar a música daquela forma (com o refrão "Eennie meenie"). As pessoas não esperavam por aquela versão, mas eu não posso ficar me repetindo, senão vou me tornar previsível e chato.
Folha - Quando você começou a trabalhar como DJ?
Morales - Há uns 15 anos. Eu comprava disco como um hobby, no começo não tinha nem um toca discos, mas comprava só para colecionar. Depois comecei e entreter meus amigos no meu quarto em vez de ir à escola. Desenvolvi meu estilo sozinho, sem influências.
Folha - Como você escolhe os clubes em que toca? Você disse que a Haçienda é o seu segundo lar. Ainda é?
Morales - Escolho clubes que gosto, onde posso fazer o que quero, tocar do jeito que quero. Não toco por dinheiro. Ninguém me amola, porque se não toco do meu jeito, vou embora, é assim que tem que ser. O Haçienda já foi meu segundo lar, mas agora é uma casa chamada Yellow, em Tóquio.
Folha - O que acha do súbito estrelato dos DJs?
Morales - Isto é uma coisa que acontece muito na Europa. Quando fui para a Inglaterra pela primeira vez, não tinha a menor idéia de como eu era famoso. Vi que as pessoas estavam espertas para a cultura club, queriam meu autógrafo, me reconheciam nas ruas. Eu não estava preparado para aquela recepção. Lá existe toda uma cultura voltada para este universo, enquanto nos EUA, ninguém fala nem oi para mim. As pessoas não ligam, acham que já viram tudo, são totalmente "blasées".
Folha - Você concorda que a melhor música está nos clubes gays?
Morales - Totalmente. Eu não sou gay, mas me divirto muito mais em clubes gays, onde a música é diversão pura. Falo dos EUA, principalmente. Nos clubes caretas, os DJs são obrigados a tocar os sucesso de rádio senão ninguém dança. Eu não saio nunca, mas quando vou a um clube em NY, vou ao Sound Factory Bar, dançar ao som de Frankie Knuckles, um dos melhores DJs de house. Eu não gosto de sair muito, na verdade prefiro ouvir discos. Até como DJ, no momento trabalho uma vez por semana, no Tunnel, reaberto recentemente.
Folha - Você tem vontade de vir tocar no Brasil?
Morales - Adoraria. Só não fui ainda por causa da distância, é muito longe. Mas se você me diz que existem bons clubes aí em São Paulo, adoraria conhecer e fazer umas noites aí.

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