São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Bolsas ou bolhas

Bolsas ou bolhas?
O desempenho das Bolsas de Valores neste início de ano desafia a compreensão, e os nervos, de todos quantos procuram enxergar algum rumo para a economia brasileira. Os volumes negociados batem recordes históricos e a valorização supera espetacularmente a inflação. O perigo é a irrupção, nas Bolsas, de perigosas bolhas especulativas.
Apesar de alguns movimentos de acomodação (venda de papéis já bem valorizados), os mercados mantêm fôlego. Continua firme o fluxo de recursos que migra para as Bolsas, alimentando a demanda por papéis. O volume negociado diariamente ultrapassou os US$ 300 milhões nos últimos dias –na semana anterior a média era de cerca de US$ 170 milhões.
A euforia, como o amor, é cega. Assim, apesar da alta da inflação, dos juros reais elevados, das incertezas eleitorais e da ambiguidade do ajuste fiscal, os mercados parecem confiantes nos destinos da economia brasileira.
A entrada de recursos estrangeiros tem sido um dos principais fatores de aquecimento das Bolsas. Em parte essa entrada resulta das perspectivas pouco animadoras nos mercados financeiros dos países desenvolvidos. As taxas de juros no Primeiro Mundo encontram-se em níveis muito baixos, a recuperação econômica tem sido lenta ou inexistente em mercados importantes (como o japonês). Nesse contexto, ganham evidência os chamados mercados emergentes, entre os quais o brasileiro.
Interessa ao Brasil converter-se novamente em pólo de atração de capitais externos. Há entretanto riscos quando predomina a entrada de dinheiro ágil e arisco, de curto prazo. Se não houver no país condições objetivas para garantir a permanência de recursos de longo prazo, comprometidos com o desenvolvimento e não com a especulação, a expansão desmesurada das Bolsas será apenas uma bolha volátil. Resta esperar que ela não exploda.

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