São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Ele se agarrou na gaveta e dei três tiros'

DA FT

José Benedito de Souza, o Zezé, disse anteontem à noite que matou o presidente do Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABC, Oswaldo Cruz Júnior, porque vinha sendo humilhado há muito tempo. Zezé continua foragido. Ele concedeu entrevista após dois dias de negociação entre jornalistas e seu advogado. Ele contou que teve uma discussão com Cruz, que o mandou sair da sala. "Ele disse que eu ia sair por bem ou por mal. Virou para trás e se agarrou numa gaveta onde eu sabia que ele escondia uma arma. Puxei da arma que estava na cintura e dei três tiros. Ele continuou agarrado na gaveta e eu dei mais um até ele largar". A seguir, trechos da entrevista.
*
Pergunta - Por que você matou o Oswaldão?
Zezé - Há quatro meses eu vinha sendo ameaçado, humilhado por ele. Onde ele me encontrava me chamava de cabeça chata, que eu vim morrendo de fome ganhar dinheiro aqui, mas eu ia me foder na mão dele. Na segunda-feira (antes do crime) eu estava em Santo André e eu estava numa lavanderia. Ele passou com a Sônia e me disse: "No dia 24 vou pôr 2.000 homens na rua Santo André e o primeiro a apanhar vai ser você.". No dia seguinte, tornou a discutir comigo. Na quinta-feira, nós fizemos uma manifestação contra o fechamento da sede de São Caetano. Depois fomos para o sindicato. Quando cheguei e ia subindo para o segundo andar ele ia descendo e ele meteu a mão em mim. Eu quase caí. Ele falou: "Sobe lá na minha sala que eu quero falar com você". Quando eu cheguei lá, a porta dele estava fechada. Bati, entrei, o Carlinhos estava sentado. Ele (Cruz) perguntou: "Por que vocês foram fazer esse protesto em São Caetano." Eu falei: "Porque achei que merecia e o sindicato é da categoria." E ele respondeu: "Mas tá errado, quem manda aqui sou eu e eu vou ferrar vocês todinhos." Aí falei: "Eu não vim aqui atrás disso. Como é que fica a nossa ajuda de custo, a minha, por exemplo." Aí ele falou: "Não tem ajuda de custo para vocês não. Pra quem tá do meu lado tem em dólar. Pra vocês não tem nada."
Pergunta - Quanto é o salário?
Zezé - No mês era Cr$ 93 mil e uns quebradinhos. Agora passou para Cr$ 130 mil. Ele falou: "Lá em casa não tá faltando nada." Eu falei: "então você não vai pagar." Ele respondeu: "Não e saia da minha sala". Eu disse: "Não vou sair, não." Ele disse: "Você vai sair de um jeito ou de outro." Aí ele se virou e pegou na gaveta. Todo mundo falava que ele andava armado. Aí eu puxei e atirei." Fiz três disparos e ele agarrado na gaveta. Aí dei outro e ele soltou da gaveta e escorou-se na mesa, não caiu. Aí eu saí. Não vi onde pegou. Pensei até que tinha errado. Estava com medo de receber um tiro também, na rapidez.
Pergunta - Você chegou a ver a arma dele alguma vez?
Zezé - Já tinha visto, só não vi no momento.
Pergunta - Você saiu de lá como?
Zezé - Saí de lá para a rua e peguei um tróleibus que passa ali em frente ao Mappin.
Pergunta - Você foi para onde?
Zezé - Para São Mateus, para a casa de um parente.
Zezé - Não é bem costume. Mas agora com as ameaças que eu vinha recebndo dele, com a humilhação, achei que qualquer hora ele ia me dar uma surra.

Texto Anterior: Nova perícia tira dúvidas
Próximo Texto: Senna roda, bate, mas faz volta mais rápida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.