São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Parmalat 'inflaciona' campeonato

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

A preparação dos clubes para o Campeonato Paulista sentiu o efeito Parmalat. Não a influência perniciosa sobre as arbitragens, como insinuaram (sem provar) técnicos e jogadores adversários. Mas a inflação crescente na renovação de contratos e, principalmente, na contratação de novos jogadores. "Desde que a multinacional se associou ao Palmeiras e passou a injetar muito dinheiro, clubes e jogadores perderam a noção de valores", aponta o diretor de futebol do São Paulo, Márcio Aranha. "Levamos hoje muito mais tempo para fazer qualquer negócio."
Depois que a Parmalat investiu mais de US$ 10 milhões em contratações, desde 1992, os clubes decidiram abusar ao estipular o preço dos passes. A situação agravou-se nos times que sofrem problemas financeiros, especialmente cariocas e mineiros.
Um exemplo é a negociação com o meia Euler, do América (MG). Os dirigentes do São Paulo se espantaram com o pedido inicial de US$ 1,5 milhão. "Perdeu-se a noção de valor real. Qualquer jogador já pensa valer mais de US$ 1 milhão", queixa-se Aranha.
Outro exemplo é o atacante Rivaldo, que foi emprestado pelo Mogi Mirim ao Corinthians no último Campeonato Brasileiro. As boas atuações fizeram explodir o preço de seu passe.
Os dirigentes do Corinthians chegaram a oferecer US$ 2,3 milhões pelo jogador. "Fomos muito além do que pretendíamos", diz o vice de futebol, Henrique Alves. "Mas o presidente do Mogi não recuou em sua proposta." O clube do interior pediu US$ 4,5 milhões.
O problema inflacionário curiosamente atingiu o próprio Palmeiras, cuja imagem milionária confundiu-se com a de seu co-gestor. Além de enfrentar problemas na renovação de contratos de jogadores –que pediram valores acima do teto estipulado de US$ 20 mil mensais–, o clube e a Parmalat enfrentam pedidos abusivos por novas contratações. "O nome da empresa é usado de forma irresponsável, mesmo não participando diretamente do negócio", conta o gerente de esportes, José Carlos Brunoro. "Vários clubes estipulam altos preços, alegando interesse inexistente da Parmalat."
Brunoro aponta também o grande número de equipes que procuram um contrato de co-gestão semelhante ao do Palmeiras. O Botafogo (RJ), por exemplo, chegou a anunciar um acerto inexistente. "Cerca de 50 clubes de grande e razoável expressão já tentaram a co-gestão", explica. Além do Palmeiras, a Parmalat só mantém co-gestão com o Juventude (RS) e contrato de patrocínio com o Boca Juniors, da Argentina, e o Peñarol, do Uruguai. (UB)

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