São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Depósitos na poupança ultrapassam US$ 2 bilhões

DA REPORTAGEM LOCAL

A corrida às cadernetas na última semana acaba de ser medida. Os depósitos na poupança superaram os saques em CR$ 815,350 bilhões (US$ 2,1 bilhões, segundo o câmbio comercial do dia 14) nas duas primeiras semanas de janeiro. Este resultado representa crescimento de 11,4% em relação a dezembro, segundo dados preliminares da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). Com CR$ 815,350 bilhões daria para comprar 290 mil automóveis populares, como o Gol e o Uno Mille, ou 6 milhões de TVs em cores de 20 polegadas. É quase o total de recursos que o governo pretendia conseguir com a retenção das transferências para Estados e municípios.
O desempenho das cadernetas este mês supera de longe o do mesmo período do ano passado. Em janeiro de 93, a captação líquida (depósitos menos saques) somou US$ 25 milhões (Cr$ 394 bilhões), com uma evolução de 0,19%. Segundo João Batista Gatti, presidente da Abecip, o principal motivo para o crescimento espetacular dos depósitos este mês foi o rendimento das contas abertas nos dias 11 e 12 passados, de 50,08% e 50,77%, respectivamente. Tanto é que a captação na segunda semana superou 132% a primeira.
A Abecip espera que a evolução dos depósitos supere ainda mais os 11,4%. É que os números divulgados ontem levam em conta apenas 25,21% do total dos agentes financeiros que operam com as cadernetas de poupança. Com isto, o saldo total de dinheiro aplicado na poupança poderá superar os CR$ 8,204 trilhões atuais.
Essa corrida à poupança teve reflexos no comércio, especialmente nos supermercados. A Apas (Associação Paulista de Supermercados) trabalha com a previsão de que as vendas nos supermercados devem ser neste mês 5% menores do que as de igual período de 93. O alto rendimento da poupança e as elevadas taxas de juros inibiram o consumo, na avaliação de Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Apas.
Em outros setores a concorrência com a poupança não afetou os negócios. Levantamento preliminar da Federação do Comércio do Estado de São Paulo indica que neste mês as vendas serão positivas, na comparação com janeiro de 93, invertendo-se assim tendência de queda registrada no mesmo mês desde 91. Tomando-se como base o mês de janeiro de 90, se verifica o seguinte: em janeiro de 91, a queda foi de 26%; em 92, de 12,5% e, em 93, de 2,5%, sempre em relação ao mesmo mês do ano anterior.
"O que sentimos é que janeiro de 94 de um modo geral vive o fenômeno de recuperação no consumo", diz Oiram Corrêa, diretor da divisão de estudos econômicos da federação. Segundo ele, as lojas do ramo eletroeletrônico são as que mais vendem neste momento. "Isso porque o preço real desses produtos caiu muito no último ano. Há, ainda, o efeito Copa do Mundo que incentiva a compra de televisores e videocassetes.
Se a poupança for considerada a causa principal da retração na venda dos alimentos, o quadro pode se reverter. Para a segunda quinzena de janeiro, as estimativas da Abecip apontam para uma diminuição do ritmo dos depósitos da poupança. O motivo é a queda na projeção de rendimento.

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