São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Educação empobrecida; Elite universitária; Barulho no Guarujá; Privilégio da ignorância; Salário dos professores; Mesmo nome

Educação empobrecida
"A ciência e a tecnologia –ou seja, a pesquisa de alto nível, necessária para que o país supere a fome, a miséria e o atraso– voltam a ser ameaçadas. O corte de verbas imposto pelos técnicos da Fazenda ao orçamento da União, que deveria ser de 16%, foi repartido de forma desigual e infeliz. Nas verbas destinadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia pouparam-se as contrapartidas de ingressos externos e o serviço da dívida, e por isso as bolsas e o fomento à pesquisa foram sangrados em até 40%! Uma área que é de pensamento em estado vivo, o insumo talvez hoje mais valorizado nos países ricos, é cortada a frio em quase metade de seus recursos. São milhares de bolsas que serão suprimidas ou terão seus valores drasticamente reduzidos. É preciso alertar a opinião pública para os perigos dessa medida: uma economia mínima em termos contábeis causará danos muito sérios a nossa capacidade de pensar. Mobilizemo-nos para que o Congresso e o Executivo corrijam esse erro."
Renato Janine Ribeiro, professor de filosofia política na USP (São Paulo, SP)

Elite universitária
"A função da universidade, como as mantidas pelo Estado de São Paulo, é muito mais do que seus cursos de formação. É basicamente uma instituição que reúne intelectuais criativos, que contribuem para o desenvolvimento do país e que através dos cursos de mestrado e doutorado, com 50% das suas vagas, treinam a elite intelectual de hoje e de amanhã. Para ssa função a universidade tem que selecionar docentes extraordinários e estudantes com a mesma potencialidade –e para isto existe o vestibular (fui eu quem introduziu o vestibular unificado e objetivo). Creio que poderia existir um meio-termo entre a universidade pública gratuita (onde a maior parte do orçamento não é consumida por professores dando aulas) e particular paga. Proponho que as universidades oficiais reduzam ao mínimo vagas em áreas onde as escolas superiores privadas podem ser adequadas. As escolas privadas seriam vinculadas às públicas, que realizariam os exames e chancela nos diplomas. Com isto as universidades de verdade ficariam concentradas nas áreas de maior importância científica, tecnológica e cultural e os que tiveram menor oportunidade para competir com as vagas receberiam um ensino adequado nas escolas privadas."
Isaias Raw, professor emérito da USP (São Paulo, SP)

Barulho no Guarujá
"Neste ano, o já conhecido 'Verão Vivo' da TV Bandeirantes e toda a mídia acessória resolveram de comum acordo com a Prefeitura do Guarujá, dirigida pelo alcaide sr. Ruy Gonzalez, e, presume-se, com a anuência da Capitania dos Portos (segundo informações oficiosas), situar-se num dos pontos da praia da Enseada, no Jardim Virginia, a partir da rua Acre, local até então tranquilo. Todo o mecanismo montado na praia, defronte às residências, com sua parafernália está provocando: 1) ocupação de uma área de 3.000 m2 na praia em detrimento dos moradores, que não têm espaço e se vêem obrigados a ocupar locais distantes. 2) Acabou toda a tranquilidade do local com a movimentação dos funcionários, empregados, carros, jamantas, propagandas nas ruas (na avenida), caminhões de transporte de aparelhos e pessoal; estacionamento defronte às residências quase sempre na própria entrada de carros, sujeira em toda região e se não bastasse tudo isso obriga-se a um barulho infernal. 3) O ruído é ensurdecedor, iniciando-se às 8h, com professores de voz estridente pelos microfones ensinando ginástica aeróbica. 4) Se não bastasse, o batuque continua o dia todo até as 20h, de maneira irritante, com decibéis acima do tolerado pelo ser humano. 5) O morador tem o direito ao merecido repouso? Até onde os poderes municipais têm o direito de perturbar a tranquilidade dos moradores? Por que não ceder terrenos afastados da praia para tais eventos? E se recebe muito com a locação, por que não beneficia os habitantes e a cidade, canalizando por exemplo o córrego da rua Acre, local que recebe dejetos de toda a região; águas paradas e contaminadas com odor insuportável e com sérias consequências à saúde?
Afiz Sadí, professor titular de urologia da Escola Paulista de Medicina (São Paulo, SP)

Salário dos professores
"O governador Luiz Antonio Fleury Filho sancionou no dia 4 de janeiro os projetos de lei 56 e 58, que reajustam em 220% os salários da magistratura do Ministério Público, que podem chegar a US$ 12 mil por mês. Enquanto isso, os outros setores do funcionalismo sobrevivem com salários de miséria. Para conseguir pequenos reajustes têm de recorrer à greve, a exemplo do que fizeram os professores no ano passado. Durante os 79 dias de greve o governador afirmou que o Estado não tinha dinheiro para atender as justas reivindicações da categoria. O piso dos professores, por 20 horas-aula, vale em janeiro exatos CR$ 34.873,70. Esperamos que o governo também se sensibilize com a questão da escola pública e do salário dos professores."
Roberto Felício, presidente da Apeoesp - Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Privilégio da ignorância
"Estava custando para eu ler uma defesa da educação na Folha. Vivas ao dr. Lima Neto. Quando Theodore Roosevelt (1902) achou que os EUA estavam gastando muito com a educação, o reitor da Harvard, Charles W. Eliot, replicou: 'Se você acha a educação muito cara, por que não experimenta a ignorância?'. A proposta orçamentária de FHC parece privilegiar a ignorância, pois não atende nem as necessidades da educação e nem as da pesquisa científica. O Lula tem razão: esse projeto poderá levar-nos a uma Biafra ou Etiópia! A China está com o maior programa educacional da história. E nós? Com deputados corruptos e/ou insensíveis aos problemas educativos não é de admirar que existam na Câmara dos Deputados 43 emendas propondo a privatização e 12 a estadualização das universidades federais. Parece que querem o fim do Brasil."
Warwick Estevam Kerr, professor do Departamento de Biociências da Universidade Federal de Uberlândia (Uberlândia, MG)

Mesmo nome
"A Folha (14/01) publicou artigo de um homônimo meu, o presidente da Monsanto do Brasil, defendendo a oportunidade da revisão constitucional. Sendo jornalista, e conhecido por ter opinião e militância opostas à do ilustre articulista, mesmo com a indicação no artigo de seu nome, idade e ocupação, estou sendo obrigado a explicar que aquele cara não sou eu e que não mudei de opinião. Acho que o Congresso Nacional, infestado de corruptos, não tem legitimidade para alterar a Constituição Federal e questiono a própria legalidade da revisão."
Antônio Carlos Queiroz (Brasília, DF)

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