São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Vendas continuam aquecidas em janeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Contrariando as expectativas, o fenômeno de recuperação do consumo continua em janeiro. O comércio disputa os cruzeiros que inundam a economia desde o final do ano passado e que permitiram aos lojistas comemorarem em dezembro vendas 10% superiores às planejadas. Mas também nos primeiros dias deste mEs os primeiros indicadores apontam que as vendas vão muito bem, obrigada.
Levantamento preliminar da Federação do Comércio do Estado de São Paulo indica que neste mês as vendas serão positivas na comparação com o mesmo período do ano passado, invertendo-se a tendência de queda registrada no mesmo mês desde 1991. Na Associação Comercial de São Paulo os dados indicam vendas entre 4% e 5% maiores do que as de janeiro de 93. Do dia 1.º ao dia 20 as consultas ao Telecheque, que medem as vendas à vista, cresceram 10,2%. Mas as consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), termômetro das vendas a prazo, caíram 5,6% no período –por conta dos juros altos.
Na análise de Marcel Solimeo, economista da Associação, o que acontece em janeiro é a manutenção do que vem ocorrendo desde março de 93. "A recuperação do consumo continua. Mas não há nada de extraordinário se levado em conta a base de comparação, que são de períodos fracos de venda." Para Solimeo, a tendência, se a inflação continuar no ritmo que está, é a de o consumo desacelerar. "Mas tudo isso depende da implementação do Plano FHC." Se ele tiver sucesso, a inflação pode cair e as vendas continuarem em ritmo crescente.
Quem mais comemora o desempenho de vendas é o setor eletroeletrônico. Para explicar o ânimo para as compras, os varejistas elencam os seguintes motivos: o bom resultado das empresas em 93 dissipa o medo do desemprego; há mais dinheiro em circulação; a demanda esteve muito reprimida no início da década de 90; há Copa do Mundo este ano; e a expectativa de que o Plano FHC consiga conter a alta da inflação. Resultado: as lojas recompõem os estoques zerados no final do ano e chegam a comprar até 30% mais do que estão vendendo, como é o caso de a Casas Bahia, que tem cem lojas no Estado de São Paulo.
Mas as vendas também são boas no setor de imóveis e de automóveis. Para Sérgio Vieira, vice-presidente do Secovi –sindicato que reúne corretores de imóveis– o ano de 94 está começando muito bem. Ele não tem estatísticas fechadas, mas afirma que as vendas vão superar as registradas há um ano, quando apenas 6,6% dos imóveis oferecido encontraram comprador em São Paulo.
No mercado de automóveis, as promoções aqueceram as vendas. A Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) estima que o mês feche com 70 mil a 80 mil unidades vendidas. Em anos anteriores, janeiro registrou vendas sempre inferiores a 60 mil veículos.
Foram também as promoções que garantiram o caixa das lojas de confecções e calçados, mas elas perderam fôlego na disputa com a poupança. "Meu maior concorrente agora não é a Pakalolo. É a poupança", diz José Roberto Machado, gerente de marketing e franchising da Surfmore, rede de 36 lojas de roupa jovem. Mesmo assim, suas vendas em 20 dias somaram cerca de 30 mil peças, praticamente o mesmo volume de janeiro de 93.
As grandes empresas do setor de alimentos e higiene e limpeza estão prevendo acréscimo de vendas de 15% em relação a igual período de 93, resultado que atribuem à introdução de novos produtos. Os grandes fornecedores desses setores ainda não conseguiram avaliar como será o ritmo da reposição dos estoques, já que os supermercados concentram as compras na última semana do mês. "Nos três últimos dias do mês é que vendemos a maior parte da nossa produção", diz Antônio Tadeu Avelino, diretor comercial da Arisco.
Há um setor reclamando das vendas: os supermercados. A Apas (Associação Paulista dos Supermercados) trabalha com a previsão de que elas serão 5% menores em janeiro do que em igual período de 93. A poupança e os juros inibiram o consumo, na análise de Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Apas. "Sem contar os aumentos de preços. Alguns produtos subiram 55% neste mês –um exemplo é o açúcar. Produtos de higiene, limpeza e perfumaria foram reajustados em torno de 48%."

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