São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Economistas divergem sobre efeitos diretos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ajuste fiscal e a política de juros altos, duas partes importantes do Plano FHC, são tidos teoricamente como instrumentos de uma política recessiva. Ocorre que não há consenso entre os economistas da repercussão efetiva no nível de atividade tanto de um como de outro.
O economista Cláudio Contador, de "Indicadores Antecedentes", diz que os números finais do ajuste fiscal não são conhecidos, mas se estiver correta a avaliação do deputado Delfim Netto (PPR-SP), o efeito não será recessivo. É que o governo, aproveitando-se de uma receita maior, gastaria mais em 1994 do que gastou em 1993. É também esta a impressão do ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris.
Contador diz que a economia está em fase de desaquecimento, mas que o setor privado está preparado para voltar a crescer de forma sustentada. No ano passado, setores da indústria, afirma, registraram um ganho de produtividade de 18%.
Para que a retomada aconteça, Contador acredita que é preciso que se reduza o grau de incerteza, especialmente com relação à URV (Unidade Real de Valor). Mesmo assim, ele projeta um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza nacional) de 2% a 2,5% para este ano, puxado pelo setor da agropecuária.
Antonio Kandir, ex-secretário de Política Econômica, também prevê crescimento do PIB para este ano –algo em torno de 1%. Mas a melhoria do nível de atividade se daria em um crescente para atingir o pico no terceiro trimestre –quando os sinais de estabilização da economia serão mais visíveis e o quadro sucessório estará também melhor definido.
Elói Cirne de Toledo, professor de economia da FEA-USP, diz que os juros estão provocando um situação paradoxal. "O mercado entende que eles hoje são altos, mas serão baixos na frente, com a introdução da URV", diz, para depois acrescentar, "logo, porque se sabe que, na frente, os ativos reais serão valorizados, eles já estão sendo hoje valorizados. Basta ver o que está acontecendo nas Bolsas". Assim, segundo ele, a política monetária já não consegue segurar a economia.
Para Cirne de Toledo, os juros são um dos fatores para explicar que, ao contrário dos demais economistas, ele não acredita que estejamos vivendo um período recessivo de curto prazo. "É o oposto. Estamos saindo, desde outubro, de um período recessivo."
O economista diz que o que tem caracterizado o comportamento da economia é a existência de ciclos de crescimento e de recessão. Para ele, o nível de atividade atual –"o comércio tem dito que janeiro está sendo melhor do que seria normal ano"– é consequência do próprio ciclo recessivo de maio a outubro do ano passado. "As empresas criaram expectativas pessimistas para o final de 1993, foram surpreendidas e obrigadas a refazer os estoques (demandando atividade)", afirma.

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