São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Esperando a URV e o Carnaval

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Então ficamos assim: a inflação de janeiro bateu nos 40%, mas a de fevereiro será menor; a economia já não está no pique do ano passado, mas também não está parando; o Congresso vai votando o Orçamento; e a Bolsa, a incrível Bolsa brasileira, continua subindo.
Tradução disso tudo: nem afundamos no mar, nem chegamos à terra firme. Como tem estado a economia brasileira nos últimos dez anos. E também como em diversas outras situações, a economia está à espera do próximo plano de estabilização, que é duvidoso, e do Carnaval, que é certo.
Permanecem as dúvidas sobre como será a Unidade Real de Valor, a URV, e qual será o cronograma de introdução. Como membros da equipe econômica dizem que muitos pontos permanecem abertos e serão fechados somente na hora de fazer a coisa, fica todo mundo na expectativa. E armado, para o bem e para o mal.
Há bancos, por exemplo, que já encomendaram estudos sobre modalidades de crédito abundante para as pessoas físicas. Naturalmente, estão pensando em um ambiente de plena estabilidade, pois com inflação e juros sempre subindo, nem os bancos gostam de emprestar, porque o retorno é duvidoso, nem as pessoas são loucas de fazer dívida que sempre cresce.
De onde vêm estas expectativas de estabilidade? Basicamente de uma fé na marcha da história: se Argentina, México e até Bolivia acabaram com a inflação, um dia o Brasil consegue, tal é o sentimento.
Mas, se apostam na possibilidade de estabilização, os bancos também se precavêem contra choques. A maioria tem prontinhos no computador, só faltando colocar a data, os mandados de segurança contra tablitas e congelamentos.
É opinião geral que o Plano FHC (entendido como uma dolarização em etapas, através da URV) é bom e não precisa de congelamentos. Mas muita gente ainda desconfia que Fernando Henrique Cardoso, por razões políticas, resolva apressar o plano e recorra a aventuras. Isto pode ser, entretanto, apenas um meio de justificar especulação com preços.
O certo é que o ministro jura que não haverá congelamentos e há razões para se acreditar nele. Como os membros de sua equipe, FHC acha que o congelamento, mesmo que fosse eficiente, do que se duvida, seria derrubado nos tribunais.
Sobra então o que dizia no início: a espera da URV, para ver com que cara vem, e do Carnaval.

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