São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Banco compra empresa para manter receita

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O banco está mais presente no cotidiano dass do que parece. Ao abrir uma torneira Deca, enxugar o rosto com uma tolha Artex, vestir um jeans da Alpargatas e subir num elevador da Villares para chegar ao escritório, o cidadão brasileiro se utilizou de serviços bancários.
A Deca é uma empresa de metais do Grupo Itaú, a Artex, a Alpargatas e Villares possuem participação acionária do Bradesco e um fundo de investimentos administrado pelo Garantia controla a própria fabricante de toalhas de banho.
Para diversificar suas fontes de receita desde já, de modo a compensar as perdas que viriam com a eventual estabilidade econômica, os bancos partiram para um acelerado processo de aquisições acionárias de empresas não financeiras.
O momento é oportuno, pois os preços estão baixos. "Todos os ativos estão baratos", avalia Florian Bartunek, diretor do Banco Pactual. Segundo Maurício Shulman, presidente do Conselho de Administração do Bamerindus, as participações em empresas armam uma rede de proteção ao setor financeiro.
"Compramos para não vender", afirma. "Tudo é feito como investimento patrimonial, pois queremos manter nossas receitas." O Bradesco, o maior banco privado do país, já aplicou US$ 400 milhões para comprar partes acionárias de 20 empresas, de fabricantes de lata a indústrias de alta tecnologia.
Para o economista Joe Yoshino, pesquisador da Fipe/USP, o crescimento dos bancos em outros setores da economia é um assunto que faz parte das discussões de reforma do sistema financeiro a serem travadas no Congresso Nacional.
"Quer queira ou não, a realidade está aí", afirma Yoshino, um estudioso do setor bancário brasileiro. "No Japão, o modelo econômico é esse mesmo. Nos Estados Unidos, no entanto, existem muros que separam muito bem cada setor econômico."
Yoshino afirma que a diversificação é importante para o setor financeiro. "O que aconteceria se a inflação voltasse para um patamar igual ao da década de 70? A rede teria de cair pela metade", diz.
Para Kanitz, no entanto, a principal novidade neste assunto é a entrada do capital internacional na área de aquisições de empresas. "Com o provável sucesso do plano de estabilização, a tendência será a de um novo surto de capitais ao Brasil", afirma.
"Há um monte de empresas debilitadas que não conseguirão acompanhar o crescimento da economia", acrescenta. "É o preço pago pelos erros do passado." Segundo Kanitz, o Brasil deverá receber um fluxo de capitais gigantesco, da ordem de US$ 300 bilhões nos próximos dez anos.

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