São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Mercedes traz 'novo Schumacher' à F-1

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL AO ESTORIL

O "novo Schumacher" criado pela Mercedes atende pelo nome de Heinz, tem 26 anos, chama seu patrão sempre de "seu Sauber" e é infinitamente mais simpático e afável que o ídolo da Benetton. E, segundo parte da imprensa alemã, mais rápido também.
Heinz-Harald Frentzen, ao lado de Schumacher e de Karl Wendlinger, foi preparado pela fábrica da estrela de três pontas para chegar à F-1. Há um ano e meio decidiu correr no Japão, na F-3.000.
Frentzen, o único piloto da F-1 que tem um capacete com desenho assimétrico –azul escuro com faixas nas cores da bandeira alemã na transversal–, confessa que vai estar nervoso no dia da estréia, em Interlagos. Ele falou à Folha no motorhome da Sauber, no Estoril.
*
Folha - Como foi essa sua volta à Mercedes, e logo na F-1?
Heinz-Harald Frentzen - Para falar a verdade, eu não esperava. Não tinha muita certeza se teria essa chance, porque no Japão você está longe de tudo. Aí um dia um jornalista disse ao Peter Sauber que eu estava fazendo um bom trabalho lá e ele me chamou para fazer um teste em Mugello, em agosto.
Folha - Você foi bem?
Frentzen - Foi tudo perfeito. Foram dois dias sem parar. O seu Sauber gostou muito e me ofereceu uma opção de contrato, sem dar muita esperança. "Talvez a gente precise de você", ele me disse. Aí eu voltei para o Japão sem muitas esperanças de ser contratado. Aí um dia o seu Sauber me telefonou, nos encontramos em Hockenheim e ele me disse: "OK, talvez eu te dê uma chance".
Folha - Aí o que você fez?
Frentzen - Voltei para o Japão, mas no fundo acho que ele já sabia que ia assinar comigo, porque alguns dias depois ele me telefonou logo de manhã e disse que ia usar aquela opção assinada em agosto. Eu não disse a ele, mas naquele momento eu era o homem mais feliz do mundo.
Folha - Teste é meio complicado, não? Você tem que ser rápido e não pode cometer nenhuma bobagem...
Frentzen - E o seu Sauber se preocupa muito com acidentes com seus carros. Ele acha que é muito importante acabar um teste sem bater, mas nem sempre eu concordo com ele (risos).
Folha - Você começou com o Schumacher e hoje ele é um ídolo na Alemanha. Você sente alguma pressão extra por isso?
Frentzen - Hoje na Alemanha todo mundo me compara com Michael. Ficam dizendo que Michael faz isso, fez tal coisa com Senna, e eu tento explicar que estou numa equipe nova, não somos tão rápidos quanto a Benetton e que este é meu primeiro ano aqui. Sinto uma pressão, claro. E sob pressão não se trabalha direito. Então peço por favor que não me comparem com ele. Eu vou estar um pouco nervoso no Brasil, mas tenho que conviver com essa pressão.
Folha - Qual é sua relação com Schumacher?
Frentzen - Eu estava no Japão e via F-1 apenas pela TV. Nós não tivemos muito contato nos últimos dois anos.
Folha - Seu estilo está mais próximo de Senna ou de Prost?
Frentzen - Eu acho Senna o número 1, gosto muito da agressividade de Alesi, do Prost. Acho que meu maior defeito é tentar ser agressivo demais o tempo todo. Talvez porque na F-3.000 a competição seja muito forte. Eu espero agora aprender melhor a ser como o Prost, que é rápido quando precisa. Não sei se vou conseguir, porque para mim corrida é ação. O problema é que ação demais pode fazer você bater o carro.
Folha - Correr em circuitos desconhecidos vai ser um problema para você?
Frentzen - Acho que sim, porque quando você vai para um circuito novo, não consegue se concentrar nos detalhes do carro. Você se preocupa mais em conhecer os truques da pista. E com o limite no número de voltas não dá para aprender o traçado e desenvolver o carro ao mesmo tempo.
Folha - Quais são suas metas para este ano?
Frentzen - Gostaria apenas de fazer alguns pontos. Mas nesta altura do ano não dá para saber ainda em que posição nos encontramos em relação às outras equipes.
Folha - Uma curiosidade: explique esse desenho esquisito do seu capacete.
Frentzen - Bom eu usei uns horríveis no começo da carreira. Quando escolhi esse, meu empresário enlouqueceu. "Nós não podemos vender isso, vai ter que fazer uma foto de cada lado para mostrar como ele é", disse. Aí eu respondi que não era tão ruim assim, era apenas diferente. Ele arrumou a maior confusão, mas eu insisti para ficar com esse. Era pior, o vermelho e o amarelo eram fosforescentes...

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