São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Bagunça e falta de glamour marcam as Mil Milhas de 94

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A edição 1994 das Mil Milhas Brasileiras foi uma viagem em flashback para a desorganização de provas passadas, quando as tomadas de curva no glorioso circuito de Interlagos eram determinadas pelos buracos na pista e pelos cavalos e vacas que a invadiam a bel prazer.
Até um saudoso cheiro de churrasquinho de preá voltou a impregnar a área de acesso às arquibancadas –como nos velhos tempos. Aquele tipo de rato do mato é figura manjada em Interlagos. E, talvez, para rememorar antigas glórias das Mil Milhas, a rapaziada que habita as imediações do circuito retomou o hábito de vender preás em forma de churrasco aos gourmets menos exigentes.
A edição 1994 das Mil Milhas foi bem menos glamourosa do que antigas versões, a despeito do time de pilotos internacionais e dos "hospitality centers" instalados sobre os boxes. Lá, eram servidos desde fatias de pizza com pimentão da Pizza Hut, um dos patrocinadores da equipe Regino, até uísque 12 anos.
Só que, a degustá-los, não estava nenhuma celebridade do porte de Angélica, Hortência ou José Ermírio de Moraes, assíduos frequentadores das provas de Fórmula 1. O mais reluzente personagem presente em Interlagos era, pasme, um senhor fantasiado de porco que fazia as vezes de "bicho-propaganda" da Chapecó.
Outras edições da prova, como a corrida de 1970 vencida pelos irmãos Abílio e Alcides Diniz, foram bem mais memoráveis. Naquele ano, os irmãos Pão de Açúcar levaram um treiler para abrigar seus convidados. Uma quituteira perpetrava quibebes para a turma, enquanto um helicóptero com o logo Pão de Açúcar permanecia a postos para buscar componentes do carro que por ventura viessem a pifar.
Em 1970, o "lobo do Canidé", Camillo Cristófaro, também causou furor. Ao descrever o desempenho de sua legendária carreteira amarela para um repórter da rádio Jovem Pan, ele afirmou –ao vivo– que o carro estava "uma m...".
Se, desta vez, houve escassez de personalidades, o mesmo não pode ser dito sobre a quantidade de bisbilhoteiros que perbambulavam pelos boxes. Em vez de utilizar o mesmo sistema da Fórmula 1, em que o público só pode passear pelos boxes em horários determinados, a organização da prova optou por dar carta branca a qualquer termocéfalo que estivesse de posse de uma credencial.
A balbúrdia que se instalou devido ao excesso de intrusos acabou transformando a área dos boxes e do paddock em uma versão nativa de Nova Déli. Omito detalhes sobre a imundície dos toaletes e a sujeira generalizada que tomou conta de Interlagos para não prejudicar o café-da-manhã do leitor mais sensível.
Tomara que os muitos problemas na organização sirvam como lição para futuras edições das Mil Milhas. Se depender da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), a corrida do próximo ano deverá constar do calendário d Fisa.
E, se isto acontecer, a prova será transformada em evento internacional. Além de atrair bons pilotos do mundo todo, as Mil Milhas de 1995 têm tudo para captar a atenção da mídia mundial, uma vez que a prova ocorrerá em uma época do ano em que as únicas corridas de porte internacional são os ralis –e não existe nenhuma outra competição importante em circuitos.

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